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Entrevista

Médico explana sobre as principais doenças identificadas na cidade

A sede de conhecimento e os desafios da carreira sempre o encantaram

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Quem já precisou ser atendido no Hospital Paranaguá certamente já teve o privilégio de receber a atenção médica do doutor João Felipe Zattar Aurichio, de 27 anos, e que deixou recentemente os bancos acadêmicos do curso de Medicina na Universidade Federal do Paraná, uma vez que se formou no ano de 2013. Atencioso e investigativo com os pacientes, o médico parnanguara é motivo de orgulho para a classe, pois faz do amor à profissão o melhor meio de mostrar que a cidade pode dispor de pessoas capazes de fazer a diferença no local onde atua.

A escolha pela carreira médica, segundo ele, foi uma opção pessoal, a qual foi estimulada pela própria família em seguida. A sede de conhecimento e os desafios da carreira sempre o encantaram. Porém, ao regressar a Paranaguá, após a formação acadêmica, o exercício da Medicina trouxe outro significado. Em Paranaguá, ele descobriu que ser médico é retribuir o cuidado e a confiança que a cidade sempre depositou nele e, principalmente, segundo suas próprias palavras, “garantir o maior bem de toda a vida, a saúde da minha família e de toda a cidade”.

 

Folha do Litoral News: Dor no peito é um sinal de infarto?

Dr. João Felipe: De 5 a 10% dos pacientes que chegam com dor no peito na emergência apresentam infarto agudo do miocárdio, segundo estudo de 2010 do Hospital de Clínicas do Paraná. Dessa forma, devemos investigar outras doenças que acometem essa topografia, dentre as quais: distúrbio do esôfago ou gástrico, doenças pulmonares, dores musculoesqueléticas, infecções de pele e transtornos psicológicos. Além disso, o médico deve levar em conta se o paciente é portador de alguma cardiopatia ou apresenta genética favorável na família para doença cardiológica. Fatores de risco como obesidade, tabagismo, idade acima dos 50 anos, sexo masculino também são considerações a serem analisadas pelo clínico no atendimento.

 

Folha do Litoral News: A ansiedade pode ser considerada o motivo para o surgimento de doenças? Quais? Como conter a ansiedade em tempos de necessidade social pelo imediatismo?

Dr. João Felipe: Os transtornos de humor, como a ansiedade, fazem parte do nosso cotidiano cada vez mais. Soma-se a isso o desconhecimento por parte dos pacientes da existência dela ou até mesmo ignorando-a como doença. A consequência dessa atitude é a adoção de comportamentos compulsivos e estressores que levam a doenças cardiovasculares como hipertensão, endocrinológicas como a obesidade, gastrointestinais como a gastrite dentre outras. Portanto, as pessoas devem reconhecer o problema e buscar um auxílio multidisciplinar como: médico psiquiatra, psicólogo e psicoterapeuta. Por fim, exercício físico programado e dieta balanceada são ótimos fatores para conter a ansiedade.

 

Folha do Litoral News: Muitas pessoas chegam ao hospital apresentando dores abdominais. Por se tratar de uma região onde há alguns órgãos muito juntos, como é possível saber especificar o problema? Além disso, normalmente a dor abdominal pode estar relacionada a algum fator gerador comum?

Dr. João Felipe: Em grande parte dos pacientes que chegam ao Pronto Atendimento com dor abdominal há a presença de algum sintoma associado. A partir disso, o médico norteia seu diagnóstico e, se necessário, pede exames laboratoriais e de imagem para confirmá-lo. Em Paranaguá, por ser uma cidade litorânea, há uma incidência aumentada de doenças intestinais infecciosas e intoxicação alimentar. Porém, esse dado não pode deixar o médico desatento para outros problemas abdominais como apendicite, pedra na vesícula, gastrite e infecções urinárias. Nesses casos, o excesso de cuidado é melhor que a falta dele. Portanto, procure sempre o pronto atendimento diante de uma dor abdominal de início rápido com outros sintomas associados.

 

Folha do Litoral News: Dor de cabeça é tudo igual? Ou seja, um único remédio pode dar fim à dor? E a dor de cabeça, quando corriqueira, pode estar relacionada a outra situação do organismo?

Dr. João Felipe: Segundo estudo realizado no pronto atendimento do Hospital de Clínicas da USP, 3 dentre 4 mulheres possuem ao menos um episódio de dor de cabeça ao mês. Chegamos à conclusão, portanto, que é uma afecção extremamente comum em nosso cotidiano, mas que deve ser levada ao médico principalmente na presença de alguns sinais e sintomas de alarme. Dentre essas considerações, o médico deve analisar se há alguma alteração neurológica como paralisia de alguma região do corpo, dificuldade de visão, vômitos em jato, febre, pressão alta e doenças como HIV associadas. Nessa época do ano, em Paranaguá, tenho observado o aumento da incidência de dor de cabeça com febre, o que nos alerta para a existência de algum quadro infeccioso, sendo necessário descartar principalmente a dengue e as enteroviroses em geral.

 

Folha do Litoral News: O que ocasiona a hipertensão? E quais as consequências de não tratá-la de modo a controlá-la? Quais seriam os modos para se evitar a hipertensão?

Dr. João Felipe: A hipertensão, por definição, é a permanência constate de pressão arterial acima de 140×90 mmHg. É uma doença extremamente silenciosa e um fator de risco considerável para a existência de doenças cardiovasculares, renais e neurovasculares, como o conhecido AVC. Apesar de sabermos que a pressão alta possui uma grande ligação genética, ou seja, se os pais possuem hipertensão, há uma probabilidade maior dos filhos a terem também, temos a consciência de que os maus hábitos de vida também estão presentes. Má alimentação, falta de exercício físico e estresse são grandes precursores da hipertensão. Para evitá-la, o paciente deve adotar medidas preventivas de hábitos saudáveis desde a infância até a vida adulta, e consultar de rotina o médico para diagnosticá-la ainda no início. Porém, o que observo em Paranaguá, não é a falta do diagnóstico da hipertensão, mas sim, a má aderência do paciente ao tratamento. Não há a consciência por parte da população que os medicamentos devem ser tomados continuamente, e não tão somente quando houver uma dor na nuca ou tontura. Portanto, o mais importante é, na primeira consulta, o paciente tirar todas as dúvidas possíveis com o médico e já aderir ao tratamento desde o primeiro dia no qual ele for adotado.

 

Folha do Litoral News: Dias de intenso calor provocam tonturas em muitas pessoas. Por que isso ocorre?

Dr. João Felipe: O clima quente e úmido é uma realidade inexorável na vida dos parnanguaras. E, com isso, a tontura é um sintoma frequente no pronto atendimento. É sempre necessário verificar os sinais vitais do paciente como pressão arterial, a frequência cardíaca, a quantidade de glicose no sangue. É muito comum a tontura ocorrer devido a uma hipotensão, desidratação ou queda/elevação abrupta do açúcar no corpo. Ao primeiro sinal de tontura, o paciente deve procurar o médico. Dessa forma, o profissional irá pesquisar doenças cardiovasculares, neurológicas, metabólicas e psicológicas que podem estar figurando como a causa do problema.

 

Folha do Litoral News: Paranaguá tem um grande número de pessoas com doenças sexualmente transmissíveis? E as pessoas com a doença, o senhor acha que há conscientização, por parte delas, quanto ao tratamento existente?

Dr. João Felipe: Paranaguá figura hoje como a 17.ª cidade com maior número de portadores do vírus da AIDS no Brasil, e 2.ª cidade do Estado do Paraná, segundo notificação recente do DATA SUS. Logicamente, muitos fatores somam-se para esse resultado lamentável, como a existência do tráfego portuário, a má educação sexual e o aumento da quantidade de jovens na população. Porém, não é somente a conscientização da população para se prevenir que ajudará na queda do número de soropositivos na cidade. Tendo por base que o HIV é uma doença na maioria das vezes diagnosticada somente pelo exame laboratorial, os médicos devem sempre se atentar para a existência de qualquer DST, por simples que ela seja, e estimular o paciente a realizar o exame de HIV. Ao atender no pronto atendimento em Paranaguá, tenho notado que os pacientes já vêm com a queixa e com o diagnóstico da DST e, dessa forma, querem somente o tratamento para resolvê-la. É muito comum o indivíduo solicitar algum antibiótico para uso domiciliar contra uma uretrite gonocócica ou uma pomada contra uma úlcera genital, porém ele esquece que da mesma forma que ele contraiu aquela DST, ele pode ter contraído o vírus HIV. Portanto, saliento que não somente o paciente deve estar orientado, mas o médico deve solicitar na primeira suspeita os exames laboratoriais completos para DST.

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