Nos últimos 35 anos, a prevalência de obesidade subiu de 5,4% para 21% entre a população brasileira. Um conjunto de causas colabora para esse resultado: a mudança no estilo de vida, má alimentação, sedentarismo e fatores hereditários. O médico gastroenterologista, Lucas Nitsche Rocha, do Hospital Paranaguá, analisou a chamada epidemia da obesidade, fator que mais mata pessoas no século XXI. Dr. Lucas é formado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem residência médica de cirurgia geral e do aparelho digestivo no Hospital do Servidor Público de São Paulo, é especialista em Cirurgia Geral e certificado em Cirurgia Bariátrica. Desde 2007, o médico já realizou no município uma média de 550 cirurgias bariátricas, acompanhando o paciente desde a primeira consulta até anos após o procedimento.
Folha do Litoral News: A obesidade hoje está mais relacionada à alteração do padrão alimentar ou a fatores hereditários?
Dr. Lucas: Há a questão genética, mas houve uma ascensão exponencial de obesidade. Na década de 1970, as famílias eram magras, as crianças brincavam na rua e as farmácias só vendiam remédios. Hoje, as famílias ficam sentadas no sofá, as brincadeiras das crianças são no celular, as farmácias são cheias de doces. O que aconteceu, na verdade, é que 50% hoje pode ser atribuído à má alimentação, mais sedentarismo e um mínimo de causas genéticas e hormonais.
Folha do Litoral News: Quando as pessoas devem se preocupar com o excesso de peso?
Dr. Lucas: Podemos nos basear pelo IMC (Índice de Massa Corpórea), que é o peso dividido pela altura ao quadrado. Só que existem os falsos magros e os atletas que possuem massa muscular muito acima da média e o IMC mais alto por conta disso. Qualquer sobrepeso já é ruim. Quanto maior o IMC, mais doenças tendem a aparecer. O melhor é procurar primeiro um nutricionista e um educador físico. As pessoas perdem um estilo de vida ao longo da sua vida e chegam a um ponto que não conseguem mais voltar.
Folha do Litoral News: Existem pessoas acima do peso que podem ser consideradas saudáveis? Ou isso é um mito?
Dr. Lucas: Isso é uma antítese. A obesidade é uma doença como diabetes, câncer, pressão alta etc. É uma doença que é uma epidemia e é a que mais está matando nesse século. Assim como houve a peste negra, tuberculose, cólera e AIDS em outras épocas, hoje é a obesidade. O que mais mata pessoas acima dos 40 anos no Brasil e no mundo é derrame cerebral, infarto, câncer de mama e próstata. Os fatores de risco para derrame e infarto são pressão alta, diabetes, tabagismo e obesidade. As pessoas que estão acima do peso podem não ter doenças, mas com certeza tem gordura no fígado.
Folha do Litoral News: Quando a cirurgia bariátrica é indicada?
Dr. Lucas: Primeiro começa pelo histórico, conforme a lei as pessoas precisam ter pelo menos cinco anos de obesidade, tentativas de emagrecimento sem sucesso, pacientes com IMC acima de 40, tendo ou não doença, ou aqueles que estão no grau dois (com IMC acima de 35) e tem doença associada. Para aqueles que estão no grau um também há indicação, como decidido há dois anos, se houver diabetes tipo 2. Perder peso é difícil para qualquer pessoa, porque para engordar, você sente prazer, mas para emagrecer é preciso sentir fome. A idade mínima é 16 anos, mas é preciso analisar o risco-benefício. Tem pacientes com 70 anos, os quais vemos com expectativa boa de recuperação. Recentemente, fiz três cirurgias em pacientes com 70 anos e todos estão muito agradecidos. Na estatística, a expectativa de vida do obeso mórbido não chega a 70 anos.
Folha do Litoral News: Com que frequência é realizada hoje em Paranaguá?
Dr. Lucas: No Hospital Paranaguá realizo de 10 a 12 cirurgias ao mês. São mais mulheres, cerca de 90%. A mulher procura muito mais cuidar da saúde do que o homem. Vale lembrar que a resolução do problema se baseia no retorno do paciente ao estilo de vida adequado. É isso que vai garantir um resultado a longo prazo. Para pacientes que estão muito longe do seu peso ideal, é muito difícil só com a mudança de estilo de vida ter resultado efetivo. É aí que a cirurgia entra, como uma ferramenta valiosa. As cirurgias são todas por laringoscopia e a mortalidade para essa cirurgia hoje é menor que 0,5%, as complicações graves somam em torno de 1%, a porcentagem de intercorrência é muito pequena versus um grande benefício. A maioria das doenças é resolvida, apneia do sono temos 100% de resolução, em semanas já vemos muitos resultados.