Entrevista

Diretor fala do trabalho no IML e revela que ainda se emociona

Após 18 anos de trabalhos no IML, há quatro meses Dr. Maurílio passou a ser o diretor da instituição

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O Instituto Médico Legal (IML) é um órgão onde são realizados exames corporais e de necropsia, por isso, para boa parte da sociedade, o ambiente não é tão conhecido. Contudo, em Paranaguá, o Governo do Estado tem olhado com bons olhos para a estrutura do espaço, o qual passou por reformas e construções. Além disso, um novo equipamento de Raios-X foi adquirido, como forma de agilizar e ajudar, por exemplo, na elucidação de crimes, os quais estão cada vez mais frequentes no litoral do Paraná.

No entanto, não é apenas de estrutura física e equipamentos que funciona o órgão, mas principalmente com funcionários que, dia a dia, buscam se doar para executar tarefas diversas, muito em razão da redução no quadro de servidores que o ambiente passou a ter nos últimos meses.

Nesta entrevista, com o médico legista Maurílio dos Santos, que recentemente assumiu o posto de diretor do IML, o médico discorre a respeito de temas como o trabalho no local, estrutura e as preocupações para com o futuro de uma instituição que ele mesmo classifica como sendo de suma importância para a sociedade, mas que fica escondida dela.

 

Folha do Litoral News: Como o senhor analisa o trabalho do IML em Paranaguá?

Dr Maurílio: Satisfatório. Dentro do que é possível fazer, as coisas são feitas. Obviamente que uma das questões que precisa ser melhorada é a contratação de novos profissionais para atuarem no local, uma vez que a recente saída de funcionários que estavam cedidos pela prefeitura desfalcou o nosso quadro. Mas a falta de profissionais para trabalhar no IML não é algo exclusivo de Paranaguá, mas sim de vários locais do Estado.

 

Folha do Litoral News: Existe alguma indicação para uma possível reposição do quadro?

Dr Maurílio: Sim, em agosto. Pelo menos é quando vai acontecer o processo seletivo para que haja a contratação de novos funcionários. Acredito que tal medida vai nos ajudar a suprir, com mais celeridade e qualidade, todos os procedimentos que são realizados no IML.

 

Folha do Litoral News: No que tange à estrutura física, a situação pode ser considerada boa?

Dr Maurílio: De razoável para boa, pois tivemos uma recente reforma, além da construção de um prédio anexo, o que facilitou o atendimento e o desenvolvimento dos nossos serviços. No que se referem aos veículos, as viaturas serão trocadas em breve, mas elas são satisfatórias, e destaco a recém-chegada de um aparelho de Raio X, o qual foi muito bem vindo para que possamos localizar, com mais agilidade e exatidão, por exemplo, um projétil no corpo de uma vítima alvo de disparos de arma de fogo. Isso porque, em 50% dos casos de homicídio não conseguíamos identificar a localização da bala no corpo.

 

Folha do Litoral News: O que existe em termos de estrutura no IML, atualmente, atende à demanda?

Dr. Maurílio: É preciso sempre deixar claro que em um espaço de tempo futuro, dez anos, a estrutura atual poderá não suportar a demanda pelos serviços. Deste modo, o planejamento precisa ser constante, a fim de que sempre estejamos à frente do nosso tempo.

 

Folha do Litoral News: A respeito do trabalho no IML, conte como funciona?

Dr. Maurílio: É muito importante frisar que o Instituto Médico Legal não trabalha apenas com a autópsia, ou seja, apenas com quem chega lá morto, para fins de exame de necropsia. A verdade é que essa parcela do trabalho é bem menor quando comparado aos serviços prestados aos vivos, uma vez que realizamos laudos médicos a pessoas acidentadas no trânsito, as quais vão precisar do documento para entrar com o processo de ressarcimento junto ao seguro DPVAT. Outra demanda, que não é pequena, são os laudos de perícia para fins judiciais. Para que se tenha uma ideia, a prestação de atendimento aos conhecidos exames de corpo de delito chegam a 200 por mês.

 

Folha do Litoral News: A respeito deste assunto (corpo de delito) em quais circunstâncias ele acontece?

Dr. Maurílio: Explico. Ele tem o objetivo de detectar lesões causadas por qualquer ato ilegal ou criminoso, ele pode ser aplicado em diversas situações, como após uma batida de carro, em casos de agressão ou quando um detento é transferido de presídio, o que é bastante comum em nossa cidade, uma vez que as pessoas presas são levadas para a casa de custódia em Piraquara. Sobre as pessoas detidas, seja por qualquer uma das polícias, o indivíduo é trazido até nós para que seja constatada a sua integridade física no instante da sua prisão. O exame também é uma prova fundamental para esclarecer casos de tentativa de suicídio, homicídio e estupro. No caso do estupro, temos estas situações consideradas de emergência, ou seja, tem prioridade total no atendimento. Em médias, ocorrem duas vezes por semana.

 

Folha do Litoral News: Sobre os homicídios, eles chamam a atenção pela quantidade?

Dr. Maurílio: Trabalho no IML há quase duas décadas e percebo claramente uma elevação anual deste tipo de crime em Paranaguá e região, uma vez que o IML, em Paranaguá, atende às demais cidades do litoral. Observamos a relação direta da maior parte dos homicídios com as drogas, o que nos faz pensar que o combate intenso e sério à drogadição fará reduzir os homicídios.

 

Folha do Litoral News: O senhor ainda se surpreende com as mortes por crime em Paranaguá?

Dr. Maurílio: Sim. Isso acontece, pois o instrumento usado para vitimar uma pessoa ou o modo como a morte aconteceu, às vezes, nos surpreende e muito.

 

Folha do Litoral News: Mesmo estando há quase duas décadas convivendo com a chegada de pessoas mortas no IML o senhor ainda se emociona com algo relacionado à morte?

Dr Maurílio: Com certeza, principalmente quando ocorre com crianças. Neste sentido, nunca irei me acostumar. Não há como se acostumar quando você se depara com a morte de uma criança, a qual foi provocada por um pai ou uma mãe, se é que assim podemos chamá-los.

 

Diretor fala do trabalho no IML e revela que ainda se emociona

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