No Natal celebra-se o nascimento de Jesus Cristo, uma data festiva, de confraternização entre família e amigos, mas também um momento de plantar e cultivar a fraternidade, a justiça e a paz.
Para entender este significado, a Folha do Litoral News conversou com o bispo da Diocese de Paranaguá, dom Edmar Peron, que está à frente da Diocese há dois anos, e nesta entrevista ele fala da data, dos símbolos e de como devemos vivenciá-la como cristãos. Dom Edmar também deixou uma mensagem à diocese. Confira:
Folha do Litoral News: Fale sobre o Natal nos dias atuais?
Dom Edmar: Precisamos considerar que o anúncio de Jesus Cristo vem daqueles que naquela época ouviram falar, acompanharam Jesus e ouviram sua pregação. Depois nós temos o anúncio daqueles que conheceram Jesus, e Jesus já morreu, ressuscitou e agora são eles que fazem o anúncio do Deus que veio até nós, que se encarnou, que por nós nasceu e ressuscitou. E quando falamos do Natal, queremos dizer que aquele anúncio que os anjos fizeram aos pastores "nasceu para vocês o salvador", é atuado, isto é, se torna presente na Igreja hoje. É claro que isso exige de todos nós muita compreensão, principalmente sobre se eu quero experimentar a salvação, o que significa em minha vida encontrar a Cristo salvador, encontrar a boa nova do Natal. Entender a prerrogativa de que "nasceu para vocês o salvador do mundo, que é cristo Jesus". Sempre o anúncio do evangelho é para nós o momento atual da salvação. No caso do Natal, anunciar o nascimento de Cristo é anunciar que hoje Jesus quer vir em nosso encontro também. Não que ele venha como uma criancinha, porque ele já nasceu, esta experiência não se repete, mas vem como Senhor ao nosso encontro e nos propõe "Eu sou a tua salvação".
Folha do Litoral News: Muitos veem o presépio como um enfeite, mas qual o seu real significado?
Dom Edmar: Digamos que entre os aspectos da transmissão da fé temos grandes vitrais nas catedrais, temos quadros em nossas casas, temos imagens, então na transmissão da fé entra com um elemento importante, pois podemos dizer é assim que nós reconhecemos a vinda do salvador Jesus Cristo, é assim que Ele se fez gente. O presépio, mais que o enfeite, torna-se também um anúncio no nascimento de Jesus salvador.
Folha do Litoral News: O Senhor acha que as pessoas perderam a essência do que realmente significa o Natal?
Dom Edmar: Todas as vezes que nós falamos de fé, temos que considerar que existem aqueles que creem e que seguem, aqueles que já ouviram falar de Jesus Cristo, mas não estão nas comunidades e aqueles que não acreditam. Temos que considerar, a essência foi perdida? Não sei se isso se perdeu, talvez esteja revelando para nós, cristãos, que existem muitas pessoas que ainda não acolheram o Natal, que ainda não acolheram Jesus Cristo como nosso salvador. Não acredito que se perdeu, mas que se apresenta para todos nós um grande campo de missão. Se Cristo não está sendo vivido no sentido de sua palavra, no projeto de seu reino, se a justiça, fraternidade e a paz não estão acontecendo, este é o campo da missão da igreja, isto é dos batizado. Nós, batizados, somos chamados a tornar presente o sentido verdadeiro do Natal. É claro que nós não somos perfeitos e por isso nós mesmos precisamos nos converter para acolhermos o sentido do Natal. Deus que vem ao nosso encontro que nos propõe um caminho novo de vida, e à medida que vamos acolhendo esta proposta, vamos sendo capazes de transmiti-la por palavras e, principalmente, pelo nosso jeito de viver aos outros que ainda não a conhecem. Por isso acredito que exista de tudo em nossa sociedade, existem aqueles que mantêm o sentido do Natal, a festa religiosa de acolher o Cristo que vem, e existem também aqueles que ainda não experimentaram esta realidade de salvação, e por isso festejam o Natal sem o conhecimento do que seja o Natal.
Folha do Litoral News: Neste mês se vê uma grande mobilização de atos de solidariedade. Por que isso acontece com mais intensidade neste período de Natal?
Dom Edmar: A dimensão de solidariedade está sempre muito presente na nossa sociedade, porque a cada dia escutamos falar que tem um bingo para ajudar não sei quem, vai ter um bazar beneficente para ajudar a creche tal, fulano arrumou um carro para fazer um sorteio para o asilo tal, ou seja, são muitos sinais de solidariedade em nossa cidade. E nesta época de Natal acredito que ainda que explicitamente as pessoas não manifestem eu sou cristã, eu creio em Jesus Cristo, mas aquilo que é fundamental da fé em Cristo, que é a solidariedade humana, desabrocha firmemente entre nós. Acredito que sim, que este aspecto de ligar o Natal à solidariedade, se torna bem presente neste período, e não é que seja ruim, de repente o ruim é não esparramar ao longo de todo o ano, mais gestos de solidariedade do que já temos visto e ver a cada dia em nossa cidade, abrindo o jornal ou ouvindo a noticia no rádio, assim por diante.
Folha do Litoral News: O que o senhor espera da Diocese de Paranaguá para 2018?
Dom Edmar: A Diocese está dando passos no sentido de organizar-se melhor. Foram muitos passos dados, porque já completamos 55 anos de existência. Mas alguns passos que estamos dando são em favor de um compromisso de fortalecer mais os pequenos grupos e pequenas comunidades para que os laços de fraternidade se expressem melhor entre os membros destas comunidades. A preocupação com a catequese de iniciação cristã o nome pode ser estranho, mais seria aquele jeito da catequese que vai ajudando a pessoa a experimentar pela audição da palavra de Deus e celebrações, Jesus Cristo em sua vidas. Nós temos a necessidade da pastoral do dízimo, muitas pessoas se organizam, mas precisamos ter algo na diocese esse é o jeito de trabalhar o dízimo. Isso já foi conversado na reunião do clero, e temos em vista este trabalho. Também estaremos dando uma atenção especial à pastoral vocacional, o cuidado com aqueles que se sentem chamados para a vida religiosa, para a vida sacerdotal, e organizar de alguma maneira aos jovens que queiram se casar, pois eles também precisam de formação neste sentido. Um trabalho com a juventude. Em março teremos a Jornada Diocesana da Juventude, e com isso trabalharemos a união dos trabalhos com a juventude na diocese. E uma outra preocupação são dos casais que estão na segunda união e procuram a Igreja, e como acolher estas pessoas, algumas pedem que sejam avaliados o seu casamento para ver se não foi nulo, e precisamos nos organizar para irmos de forma eficaz e efetiva ao encontro dessas pessoas. Vejo que são alguns desafios que nossa diocese tem pela frente. Acredito que o importante que na diversidade das realidades serra, montanha, ilhas, praias, porto, busquemos objetivos comuns, e estes que disse que sejam comuns à diocese. Tendo essa preocupação a gente pode dar um passo. Eu gostaria de um empenho aqui na cidade mesmo, para que a Catedral pudesse realmente ser vista como centro de nossa fé católica. Gostaria de um empenho e não sei ainda como fazer, e venho conversando com o padre Emerson, para que a limpeza, manutenção, adequação do espaço interno da Catedral possam também corresponder à liturgia que se celebra ali. Então temos horizontes de evangelização e precisamos também de cuidados com a estrutura, e a cidade pode colaborar com este cuidado com a Catedral.
Folha do Litoral News: Qual mensagem o senhor deixa para os leitores para este Natal?
Dom Edmar: Estamos em uma situação em que corremos o risco de perdemos a esperança. Olhamos a sociedade e começamos a dizer não vale mais a pena falarmos de política, paramos de participar dos conselhos, dentro das comunidades, às vezes, nos deparamos com situações difíceis, precisamos nos reconciliar, acredito que o Natal é o momento de reacendermos em nós a esperança. Com o Cristo que vem podemos dar novos passos no ano novo, seja dentro das comunidades católicas, mas no âmbito maior da sociedade mesmo, dar passos em que as pessoas sejam valorizadas pelo que as elas são, e aquilo que faz a vida de uma cidade acontecer que para min é a fraternidade. Quando nos esquecemos disso, o Natal se perde e a esperança corre o risco de morrer. Quero deixar a mensagem de que Natal é esperança de vida nova dentro das comunidades e para a cidade. Isso é possível para todos nós.