No dia 5 de dezembro, a Aguardente de Cana e Cachaça de Morretes recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). A cachaça Magia da Serra tem toda produção realizada em Morretes e compõe a Associação dos Produtores de Cachaça de Morretes (Apocam), juntamente com outras duas empresas: Casa Poletto – Ouro de Morretes e Porto de Morretes.
PRODUÇÃO
A Folha do Litoral News foi até o bairro Sambaqui, em Morretes, e conversou com o proprietário da Magia da Serra, José Carlos Possas, que contou sobre a produção da cachaça. “A nossa produção, na verdade, é sazonal. Nós trabalhamos com uma produção entre três a quatro meses por ano, principalmente mais na parte do inverno e é feita exatamente com o pessoal nosso aqui, profissionais capacitados e gabaritados, fizeram cursos para esse tipo de serviço quando da instalação do alambique. Temos nosso plantio próprio de cana, que é relativamente pequeno, e a gente tem outras áreas onde vamos incrementar um plantio para ter produção própria para trabalhar esses três ou quatro meses por ano e produzindo de três a quatro mil litros, que é a demanda nossa”, contou Possas.
O proprietário da cachaça Magia da Serra disse ainda, que a produção ocorre dentro da demanda. “Nós temos um estoque relativo, então não há necessidade de ter uma fabricação contínua. Nós vamos trabalhar dentro da demanda. O que a gente tem armazenado hoje é praticamente 90%, a fabricação era de cana nossa mesmo”, completou.
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA
Agora, o Paraná conta com 13 produtos com Indicações Geográficas, segundo estado no país. O processo para a IG foi protocolado no INPI em 27 de março de 2020 e contou com a colaboração do Sebrae para a criação de uma associação, coleta de documentos, captação de relatos de moradores sobre a importância do produto, além de um levantamento sobre aspectos econômicos, culturais e históricos.
A diretora executiva da empresa, Andressa de Oliveira Voi Possas, celebrou o registro de IG da cachaça originalmente de Morretes. “O Sebrae foi extremamente importante, desde o início. Nos acompanhou durante esses 8 anos, nunca nos abandonou, sempre esteve presente. Se tinha reunião, eles estavam com algum representante e sempre que a gente precisou, o Sebrae ajudou. Tanto é que foi o Sebrae que nos deu a notícia e todo mundo vibrou junto, e somos a 13.ª Indicação Geográfica aqui do Paraná. Eles foram fundamentais para a obtenção do IG, gratidão ao Sebrae”, destacou. O processo contou com parcerias do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab), e da Agência de Desenvolvimento Cultural e do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur Litoral).
O registro é garantido por conta das características típicas da região. A matéria-prima, cana-de-açúcar, plantada na localidade, chamada de havaianinha, é produzida na região Reserva da Biosfera da Mata Atlântica ao pé da serra, área reconhecida pela Unesco pelo seu patrimônio ecológico, e que confere características únicas ao solo, além de um clima quente e de baixa umidade.
“Nós estávamos atrás desse título já faz oito anos. Então, esse processo durou todo esse tempo. A gente acredita muito no nosso produto, a gente tinha certeza que a gente ia conseguir esse registro, esse título. Esse registro acaba sendo para a região de Morretes, mas acredito que o nosso litoral como um todo seja beneficiado porque tendo a nossa Indicação Geográfica de Procedência significa que é um produto da região de Morretes, que foi reconhecido como sendo tradicional em fabricação aqui na região e reconhecido. Existe um protocolo, existe uma forma de fabricação e esses produtores seguem à risca”, relatou Andressa Voi Possas.
PRODUZIDA HÁ 20 ANOS
A Magia da Serra, de acordo com os proprietários, tem cerca de 20 anos, tendo seu início em 2003. “A cachaça Magia da Serra tem 20 anos e é cachaça mesmo, quando nós começamos com o alambique Dom Henrique desde 2003. Mas, a propriedade em si, nós já estamos com 30 anos. Temos kits, temos conjuntos, temos os avulsos, hoje nós trabalhamos com três tipos de cachaça: a cachaça prata, que sai do alambique e já pode ser comercializada, que é branca; tem a cachaça ouro, armazenada em tonéis de madeira; e temos a cachaça 15 anos, armazenada em tonéis de carvalho, é sensacional, de um aroma maravilhoso e um sabor inigualável”, frisou.
A produção de cachaça em Morretes destaca-se pela colheita manual e orgânica da cana de açúcar, sem o uso de herbicidas. O processo inclui lavagem da cana, fermentação, destilação em alambiques, resultando em uma cachaça de baixa acidez e sem adição de açúcar. Um profissional especializado supervisiona o processo, seguindo rigorosos padrões de produção.
ORIGEM DO NOME
A cachaça Magia da Serra recebeu esse nome por ser produzida em um local próximo à região da Serra da Prata. “Ela foi batizada com a gente olhando para a Serra que está na nossa frente e toda a Serra tem uma magia e essa aí além de uma magia ela tem uma história rica em vários detalhes, então me veio na ideia de, como a Serra faz tanta magia, então vamos fazer uma magia na cachaça chamada Magia da Serra”, explicou Possas.
A propriedade fica localizada na Estrada do Arrastão, que fica no bairro Sambaqui, em Morretes, uma região que tem cerca de 200 famílias.
VISITAS AGENDADAS
Andressa Voi Possas explicou que as pessoas podem agendar visitas até o local, que funciona de segunda a sábado. “A gente recebe visita geralmente agendada, mais fácil para a gente ajeitar aqui, mas pode vir, conhecer como é a nossa produção. A maioria das pessoas quando chega na parte do alambique de cobre fica impressionada, pois não tem ideia de como é a fabricação da cachaça. Além disso, temos a loja para venda dos produtos aqui. Geralmente as pessoas agendam visitas pelo Instagram”, disse.
“A população em geral encontra a cachaça Magia da Serra em supermercados, lojas de conveniências, tem em boutique mais gourmet, tanto no litoral quanto em Curitiba. Aqui no litoral, a cachaça está em Morretes, Antonina, Pontal do Paraná, Paranaguá, Guaraqueçaba e Matinhos”, disse Andressa.
PROJETO
“Com relação às visitas, nós pensamos em uma oportunidade próxima, de fazer algo onde nós possamos fazer um trabalho de mostrar esse tipo de produção para as escolas. Já fomos procurados para isso, pelo Sebrae, pela universidade, então nós precisamos primeiro nos organizar para depois. A gente tem que dar um atendimento digno. Então nós pensamos num futuro próximo que nós possamos trazer, quem sabe, uma vez por mês ou uma vez por cada dois meses, uma determinada escola, mesmo de Morretes, começando por aqui, porque nós estamos aqui, somos cidadãos morretenses. É uma ideia, é um projeto que nós vamos colocar em prática”, finalizou o proprietário José Carlos Possas.