Entrevista

Bispo fala sobre o verdadeiro significado da Páscoa

“Vivenciar uma data especial como a Páscoa durante a quarentena é sim um convite à reflexão”, afirma o bispo de Paranaguá, dom Edmar Peron

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O bispo da Diocese de Paranaguá, dom Edmar Peron, explica as orientações que foram adotadas pela Diocese de Paranaguá sobre as celebrações da Semana Santa e da Páscoa, neste momento em que o mundo enfrenta o momento mais grave da pandemia da Covid-19. Esta é a segunda vez, por conta da pandemia, que os fiéis não poderão comparecer pessoalmente às festividades de Páscoa, iniciadas no Domingo de Ramos. E o bispo enfatiza que o momento é um convite à reflexão.  Além disso, Dom Edmar fala sobre o verdadeiro significado da Páscoa, finalizando com a mensagem da união em oração e na observância das medidas sanitárias de combate à Covid-19.  Confira:

Folha do Litoral News: Como são desenvolvidas as atividades na Diocese de Paranaguá, neste tempo de pandemia?

Dom Edmar Peron: Ousada criatividade e empenho perseverante. Essas têm sido as marcas da dedicação de padres, diáconos, religiosas e leigos no desenvolvimento das atividades relativas à evangelização e à organização de nossa Diocese, particularmente a Catequese, a Liturgia, o Serviço aos pobres, em suas necessidades básicas, e os esforços para garantir o sustento econômico das comunidades.

Muitas pessoas, com grande generosidade – por si mesmas ou por meio das comunidades – têm se despertado para o compromisso caritativo da fé. A indiferença vai sendo vencida pela ajuda fraterna, expressa por meio de doações e da organização de grupos interessados em oferecer algum alívio aos que sofrem, à espera da solidariedade humana. As igrejas – nossos templos – estão fechadas para as celebrações litúrgicas, mas a “igreja viva” não está fechada. O povo de batizados se organiza e vai ao encontro. É um sinal, às vezes, pálido, daquela caridade que a Igreja inteira é chamada a realizar. É claro que as autoridades governamentais devem incluir os pobres em seus projetos, mas isso, porém, não desobriga a Igreja de exercer a caridade, de servir, de ir ao encontro dos sofredores.

A Catequese, por sua vez, revelou o lado criativo de numerosos irmãos e irmãs, que não se acomodaram, mas, especialmente, via on-line, continuam a manter unidos os grupos de crianças, adolescentes, jovens e adultos.

E a própria Liturgia superou os ambientes das nossas igrejas e entrou nas casas, por meio das redes sociais. Tivemos de nos adaptar ao modo de celebrar com pequenas equipes de liturgia, mas formando uma grande comunidade virtual. Tais celebrações garantiram a muitos irmãos o acesso ao rico tesouro da Palavra de Deus. Quando as leituras são bem preparadas, os salmos bem cantados e as homilias enraizadas na Palavra de Deus, às pessoas é oferecido o “Pão da vida, que é Cristo”. A todos, sem exclusão é dado este alimento de salvação: a Palavra de Deus, tomada das Escrituras.

Estes passos, ousados e criativos – e às vezes tímidos, cansados, marcados por muitos medos – são sinais de um longo caminho que nossa Diocese tem para percorrer, ela que está prestes a comemorar seus 60 anos, em 21 de julho de 2022.

Folha do Litoral News: Esta é a segunda vez, por conta da pandemia, que os fiéis não poderão comparecer pessoalmente às festividades de Páscoa. Vivenciar uma data especial durante a quarentena é um convite à reflexão?

Dom Edmar Peron: Essa pergunta me faz recordar de João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, falecido em 407: “Assim como não se põe o incenso em carvão apagado, não adianta a celebração litúrgica sem uma verdadeira oração individual. O desejo espiritual é como o fogo, a oração individual faz a pessoa se abrasar nesse fogo. Então, quando as brasas estão acesas, se põe o incenso da liturgia e se realiza a oração comunitária” (São João Crisóstomo). Com esta citação, desejo afirmar que vivenciar uma data especial como a Páscoa durante a quarentena é sim um convite à reflexão. Além disso, é preciso insistir que a meditação e a oração de cada fiel são necessárias sempre, em todos os tempos, e não apenas nestes dias difíceis da pandemia. Quem deseja participar ativamente e com frutos da celebração precisa, como nos lembra o Senhor no início da Quaresma, entrar no quarto, fechar a porta e orar ao Pai que está nos Céus (Mateus 6,6 – Evangelho proclamado na Quarta-feira de Cinzas). Oração Litúrgica e oração pessoal se reforçam mutuamente. A meditação do Evangelho de cada dia será o modo concreto de abrasar o coração sempre, especialmente durante o Tríduo Pascal. Ofereço, pois, as indicações para cada dia: Quinta-feira, João 13,1-15; Sexta-feira, João, capítulos 18 e 19; Sábado Hebreus 4,1-13 ou 1Pedro 1,18-21; Domingo, João 20,1-9 ou Lucas 24,13-35.

Folha do Litoral News: O Coronavírus mexeu com o cotidiano, com o trabalho e as relações humanas. Como a igreja sente o impacto na vida das pessoas?

Dom Edmar Peron: Penso que seja possível falar de duas consequências perceptíveis em nossas comunidades: o crescente sofrimento e a não menos crescente confiança em Deus, com o despertar de uma fé mais amadurecida. Não é possível permanecer indiferente ao grande sofrimento gerado em uma família quando um dos seus amados morre de Covid-19. É uma separação brusca, cruel. Quase todas as famílias não puderam mais estar ao lado da pessoa depois de ela ter sido levada para a UTI.  E, na morte, não tiveram a possibilidade de velar a pessoa, chorar sobre ela, tocá-la, despedir-se dela. Apenas receberam um caixão lacrado com a informação de que dentro dele estava a pessoa que amavam e o depositaram no túmulo. Esta não é a única dor. Há também aquela causada pelo desemprego, a fome, a solidão. Ao mesmo tempo, percebe-se o renascer da confiança em Deus. As nossas poucas seguranças vão se desmoronando e, digamos, abrindo espaço para entrar outra claridade, a que emana da espiritualidade, a qual oferece um novo sentido para viver. Para o cristão, na Páscoa, olhamos para o Crucificado, que assumiu nossas dores e experimentou nossa morte e, vitorioso, vive, é o Ressuscitado. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até o fim do mundo. Nele, “homem das dores” pode-se, pouco a pouco, encontrar sentido para as nossas próprias dores.

Folha do Litoral News: O senhor poderia nos falar qual é o verdadeiro significado da Páscoa?

Dom Edmar Peron: A Páscoa é o ponto alto do Tríduo pascal, chamado por Santo Agostinho, o “tríduo do crucificado, do sepultado e do ressuscitado”. Cristo por nós foi morto na cruz, sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras. A Páscoa é a celebração desta vitória de Cristo sobre o pecado e morte. Nele, a vida é vitoriosa e em definitivo. Em nós, porém, a vitória da vida e a nossa libertação vão acontecendo a cada dia. É nossa Páscoa na Páscoa de Cristo quando passamos de condições de vida menos humanas para condições de vida mais humanas. Quando a divisão cede espaço à união; à intolerância, ao respeito pelo diferente; à miséria, à posse do necessário para viver dignamente; à doença, à saúde; o pecado, à graça; e poderíamos elencar muitas outras situações para abrir nossa compreensão da Páscoa, sinais da passagem amorosa de Deus pelo meio do seu povo para conduzi-lo à verdadeira libertação.

Folha do Litoral News: As missas agora são transmitidas de forma on-line neste período de Páscoa? Como os fiéis poderão acompanhá-las?

Dom Edmar Peron: Por mais um tempo, creio eu, precisaremos seguir com as celebrações sem a participação normal de fiéis, transmitidas pelas redes sociais, rádios e TVs. Em nossa Diocese, as Comunidades paroquiais, os santuários e a reitoria estão se desdobrando para, com a melhor qualidade possível, transmitir as celebrações pelas rádios e pelas redes sociais. Na página da Diocese de Paranaguá, no Facebook – /diocesedeparanagua – as pessoas poderão acompanhar as celebrações do Tríduo Pascal, presididas por mim, na Catedral: sexta-feira, às 15h; sábado, às 19h; domingo, às 10h.

Contudo, cada pessoa ou família é chamada a celebrar em sua casa, usando algum subsídio, e não apenas acompanhar as transmissões das celebrações. Apresento dois ótimos subsídios: Celebrar em Família (https://www.cnbb.org.br/categoria/download/) e Celebrar em casa (https://revistadeliturgia.com.br/semana-santa-em-casa/).

Finalmente, unidos na oração e na observância das medidas sanitárias de combate à Covid-19, desejo a todos e a todas uma Feliz Páscoa.

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