conecte-se conosco

Dia da Mulher

Praticagem e protagonismo feminino na navegação em Paranaguá

⚓ Vanessa das Graças Moraes é a única mulher que atua na praticagem em Paranaguá. Na foto ela está de verde, ao fundo, em embarcação no Porto

Publicado

em

Foto: Arquivo pessoal

Lugar de mulher é onde ela quiser, seja em terra ou mar. Há profissões que se destacam não somente pela destreza e exigência para atuação, como também por sua importância para garantir a segurança de todo o um complexo logístico e marítimo, umas das que mais denota isso é a função de prático, exercida na Paranaguá Pilots na Zona de Praticagem de Paranaguá e Antonina por Vanessa das Graças Moraes, única mulher que atua no litoral do Paraná na atividade que conduz navios em segurança na entrada e saída dos portos, tanto na navegação no canal de acesso, quanto na atracação e desatracação. 

Nascida em Altônia – PR, Vanessa atua desde 2015 na Paranaguá Pilots na Praticagem. Ela detalha sua identificação com o mar, bem como histórias de superação na função, enfrentando tempestades, passando em processo seletivo árduo e estágio que a capacitaram a atuar como prática. “Aos 12 anos, me mudei para Curitiba com a minha família. Ao terminar o segundo grau, morando em Curitiba, busquei me informar sobre como seria possível exercer alguma atividade no mar, um sonho de criança. Entrando em contato com a Capitania dos Portos do Paraná, fui atendida prontamente e obtive as informações necessárias para dar início à desejada carreira no mar”, explica.

“No ano de 2005, ingressei na EFOMM (Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante) localizada na cidade do Rio de Janeiro, nas dependências do Ciaga (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha). Residi no local durante três anos até alcançar a graduação de Bacharel em Ciências Náuticas. Depois, por meio dessa formação acadêmica, exerci durante quatro anos a função de piloto a bordo de navios mercantes do tipo tanque, sob contrato da empresa estrangeira Teekay”, ressalta a prática.

Incentivo feminino, aprovação em processo e estágio

A profissional ressaltou que em 2012, foi incentivado pela prática Michele, atuante no Rio de Janeiro, a atuar na Praticagem, algo que foi sendo construído aos poucos com plano para ingresso na carreira. “Isso veio a ocorrer no ano de 2012, quando fui aprovada no processo seletivo para praticante de prático. Conquistei uma vaga em Natal. E, já no fim do meu período de estágio, outro processo seletivo foi publicado pela Diretoria de Portos e Costas. E novamente, eu me preparei para mais uma prova na qual fui bem-sucedida, conseguindo uma vaga de praticante de prático em Paranaguá. Com isso, iniciei meu estágio no ano de 2014, desistindo de vez do ingresso como prático em Natal”, explica.

“Passado meu período de estágio, em maio de 2015 recebi o certificado de prático nos portos de Paranaguá e Antonina, após exame de habilitação a bordo. Meu desejo maior sempre foi trabalhar no mar, sem nunca ter em mente uma atividade específica. Acabei contemplada com o exercício daquela que, hoje, considero a mais bela e desafiadora dos ofícios marítimos”, salienta Vanessa.

“Atualmente, existe apenas uma mulher como prático no Portos do Paraná. O processo de seleção ocorre nos termos do edital publicado pela Diretoria de Portos e Costas. De forma resumida, o processo seletivo ocorre em quatro etapas: escrita, fase de avaliação documental e de saúde, teste de aptidão física e, finalmente, uma prova prático oral executada em simulador”, detalha a prática.

Segundo a profissional da Paranaguá Pilots, após obter sucesso em todas as etapas do processo seletivo, ela passou por um período de estágio de 15 meses. “Foi um tempo de muito aprendizado acompanhando manobras junto aos práticos habilitados e também executando manobras sob a supervisão dos mesmos. Passada essa fase de treinamento, realizei manobras sob supervisão e avaliação de uma junta composta por práticos e militares da Marinha. Felizmente, fui considerada apta e obtive o certificado de prático”, comenta.

Superação

Com relação  a possíveis barreiras superadas, ela ressalta que isso é algo muito pessoal. “Creio que existem barreiras que são genéricas para todos que exercem a atividade de praticagem, enquanto existem outras ligadas às características física, emocional e psicológica de cada profissional. Particularmente, houve uma barreira física a ser enfrentada, já que o ingresso e saída do prático se dá por meio de uma escada estendida no costado do navio. Acaba que a gente faz algo tipo um rapel para embarcar. Eu senti no corpo que precisava de um melhor condicionamento para executar essas subidas e descidas”, detalha.

“Outra barreira pessoal foi estabilizar o aspecto fisiológico durante a semana de trabalho, já que operamos durante todos os dias do ano. Ou seja, a praticagem, via de regra, é um serviço ininterrupto. Com isso, acordar de madrugada para executar uma manobra requer corpo e mente preparados para tal. Eu penso que minha presença no meio marítimo em específico, no exercício da função do prático, pode, sim, ser vista como mais uma possibilidade profissional para as mulheres que queiram se lançar no mercado de trabalho”, afirma a prática.

Importância do prático para a navegação

Vanessa explica que a atividade de prático é essencial para a segurança na navegação, bem como contexto logístico e portuário. “A praticagem é a atividade que conduz os navios em segurança na entrada e saída dos portos, tanto na sua navegação no canal de acesso quanto na atracação e desatracação. O prático vai a bordo para proteger a sociedade de acidentes que podem provocar severa poluição ambiental, mortes, danos ao patrimônio público e privado e fechamento de um porto para a economia”, comenta.

“O prático tem como ato maior primar pela segurança de todos os elementos envolvidos, navio, pessoal e meio ambiente; enquanto  viabiliza a movimentação dos navios que entram e saem dos portos”, ressalta a profissional da Paranaguá Pilots.

Histórias

Para ela, o maior desafio continua sendo interno. “É derrubar crenças limitantes do tipo: sou a única mulher, os homens não vão acreditar na minha capacidade, etc. Insistir em lutar contra aquilo que me limitava a exercer meu trabalho, de forma leve, foi o primeiro grande desafio”, acrescenta. 

Além disso, na sua profissão, houve episódios que exigiram força mental e competência para superação. “Eu aponto uma ocasião em que encarei a maior tempestade de todas até hoje. Foi numa tarde de julho de 2020. Eu me aproximava do berço de atracação a bordo de um navio porta-contêineres quando, num segundo, o dia virou noite e uma tempestade se formou com ventos de mais de 150km/h. Eu contei com a total confiança do comandante de que minhas decisões manteriam o navio e a tripulação numa zona de segurança”, explica. 

“Juntamente com meu colega de trabalho Daniel, com a equipe de passadiço (cabine de comando) e os rebocadores que nos assistiam, livramos o navio de todos os perigos e retornamos para a barra do Porto de Paranaguá, onde o navio aguardou condições seguras e favoráveis para retomar ao berço de atração”, salienta Vanessa, frisando que teve medo e frio na barriga, “mas não perdi o equilíbrio emocional, item essencial neste trabalho”, complementa. “Com o emocional equilibrado à máquina humana (corpo e mente), nos mantemos aptos a desempenhar a função exigida do prático”, salienta a prática.

Mensagem para mulheres

A prática comenta que o mundo e sociedade vivem constantes mudanças, algo que ocorre ao longo dos anos, séculos e milênios com o ser humano. “Nos dias atuais, nós mulheres vivemos num mundo muito mais acessível. Esse acesso se deu por todas aquelas que, num passado próximo ou mais distante, abriram portas e quebraram barreiras, a fim de elucidar para sociedade que homens e mulheres podem conviver em comunhão e viver com autenticidade a vida de sua própria escolha”, afirma.

“Então, não vamos nos limitar às crenças que nos embarreiram a chegar aos nossos ideais. Porque nós não somos isso ou aquilo. Somos ensinadas a isso ou aquilo. Portanto, a todo instante, podemos rever conceitos, transformando ideias. Isso, sendo feito de forma reiterada com uma boa dose de amor e autoconfiança, leva ao resultado inegável de que a mulher pode ser e fazer da sua própria maneira”, finaliza Vanessa das Graças Moraes.

Em alta

plugins premium WordPress