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Cultura

A Revolução Federalista em Paranaguá

Local onde hoje é a Estação Ferroviária, houve um sangrento confronto com mais de 150 mortes

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Chegamos aos 130 anos da Revolução Federalista, história esquecida ou apagada em nossa cidade.

Fatos heróicos, personagens marcantes, divisão política da cidade, das vidas ceifadas e danos patrimoniais.

Assim, temos que fazer uma breve introdução para explicar o que foi a Revolução Federalista.

Após a Guerra do Paraguai, começaram a surgir os primeiros movimentos favoráveis ao fim da monarquia. Para tanto, fundaram um jornal A República e Clubes Republicanos em Curitiba e Paranaguá, com a finalidade de propagar as ideias republicanas. O fim da escravidão e a idade do Imperador, além de outras crises políticas, conduziram a um golpe militar contra o regime, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca.

Após a Proclamação da República em 1889, forças contrárias ao Marechal Deodoro fizeram-no renunciar, e este entregou o cargo ao então vice-presidente Marechal Floriano Peixoto, que assumiu a presidência do Brasil.

No Sul, a grande rivalidade entre dois líderes políticos, Gaspar Silveira Martins do Partido Nacional Federalista, e Júlio de Castilhos, republicano, foi a gota d’água para a eclosão da Revolução Federalista. Cresceu a anarquia. Nascia, assim, o movimento de contestação ao governo de Floriano.

A confusão no Rio Grande do Sul era intensa. Derrotados nas urnas, os partidários de Silveira Martins resolveram então conquistar o poder pela força, e veio a guerra civil. Desse conflito, então, surgiram no teatro da guerra personagens como os Pica-paus e os Maragatos.

Pica-paus, expressão usada pelos federalistas para identificar os republicanos, teve origem no nome das faixas brancas, semelhantes ao pássaro pica-pau, encontradas nos quepes desses militares. Os Maragatos, fusão de federalistas e parlamentaristas, tiveram origem na região de León, na Espanha, mais precisamente no distrito de Maragateria, onde seus habitantes eram chamados de maragatos.

Quando Júlio de Castilhos assumiu o governo no Rio Grande do Sul com o apoio do Marechal Floriano Peixoto, as perseguições surgiram de todos os lados contra os federalistas, cujo desejo era chegar até a Capital – Rio de Janeiro – e depor Floriano.

No Paraná, dois partidos políticos existentes no Império, o conservador e o liberal, tinham no Paraná o Barão do Serro Azul e Generoso Marques como representantes.

O conservador transformou-se no Partido Republicano Federal, chefiado por Vicente Machado e o Liberal, foi transformado em Partido Republicano Paranaense, sob o comando de Generoso Marques.

Dos Preparativos:

No dia 6 de setembro de 1893, no porto do Rio de Janeiro, a Esquadra brasileira, sob o comando de Custódio de Melo, amanheceu revoltada, exatamente quando o Rio Grande do Sul atingia o máximo de sua perturbação. Os movimentos combinados entre a Revolta da Armada e a Revolução Federalista demonstravam o grau de entendimento e igualdade de propósito de seus chefes. Os federalistas planejavam avançar sobre os estados de Santa Catarina e Paraná que, desprevenidos, se tornariam presas fáceis. Penetrariam em São Paulo, onde agrupariam todos os elementos anti-florianistas a fim de preparar o avanço até a capital.

O Paraná mobilizou suas forças policiais e organizou tropas civis para auxiliar na defesa. O Dr. Vicente Machado criou o Batalhão Patriótico “23 de Novembro”, composto por voluntários, dentre eles alguns funcionários públicos estaduais.

No dia 29 de setembro de 1893, esse Batalhão foi aquartelado juntamente com o Regimento de Segurança do Paraná, formando uma Brigada Provisória, ficando sob o comando do coronel Cândido Dulcídio Pereira.

No dia 18 de setembro de 1893, um contingente do Batalhão Patriótico, 40 policiais militares e outras praças da força de linha, seguiram para Paranaguá para reforçar o destacamento que lá se achava sob o comando do Cel. Melo.

Paranaguá estava dividida entre Pica-paus, Maragatos e “neutros”.

As famílias se dividiram, amizades foram interrompidas, mas não se pode esquecer é que apesar da ideias divergentes, todos se conheciam e teve ajuda mútua para preservar a vida dos conterrâneos.

Dia 11 de Janeiro de 1894

Era madrugada do dia 11 de janeiro quando se ouviu na cidade de Paranaguá um forte tiroteio vindo da cadeia pública, onde se aquartelava a 1.ª Cia do Primeiro Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional. Havia, há algum tempo, um plano para que a Esquadra Revoltada de Custódio de Melo invadisse a cidade por mar, e um grupo de revoltosos tentaria tomar os principais edifícios, esse era o plano.

O Cel. Melo, que era comandante da praça, tinha sido avisado por um desertor do grupo e havia se preparado, se entrincheirado na cadeia e adjacências.

O grande problema foi que a Esquadra não apareceu. Fracassada a tentativa de golpe, os revoltosos se retiraram e acamparam na costeira.

Ainda em 11 de janeiro de 1894

Logo após o fracasso da revolta, ampliaram-se as prisões dos suspeitos; qualquer um que fosse contrário ao regime era suspeito. Prenderam em torno de 60 pessoas. Neste mesmo dia, o Cel. Melo enviou um ultimato aos revoltosos que estavam acampados na costeira por intermédio do Tenente Aníbal Carneiro onde informava que os prisioneiros seriam fuzilados sumariamente se os revoltosos não se entregassem para o bem da tranquilidade da cidade.

Ao entardecer, todos os revoltosos se entregaram. A ordem inicial do General Pego Junior foi para fuzilar todos os cabeças do levante, porém, segundo um telegrama recebido do Ministro da Guerra General Eneas Galvão, só poderiam ser fuzilados após passarem por um tribunal militar e serem julgados culpados, segundo as Leis da Guerra.

Com a prisão dos revoltosos, houve festa dos legalistas. O comandante Coronel Eugênio de Melo desfilou pela cidade à frente de um contingente militar, inclusive com uma banda de música, dando vivas a Floriano, Vicente Machado e à República. Todos os governistas festejaram.

Dia 12 de Janeiro de 1894

Nada aconteceu, apenas mais prisões; a cidade vivia um anticlímax dos eventos que se desdobrariam nos próximos dias.

Dia 13 de Janeiro de 1894

Amanhecendo dia 13 de janeiro de 1894, uma névoa envolvia a cidade de Paranaguá; essa névoa era vinda do mar. O posto Semafórico da Cotinga anunciava a entrada de 4 navios de guerra na Barra; isto caiu como uma bomba entre os legalistas que já achavam que a esquadra tinha desistido do ataque. Apontou na Barra o Vapor “Esperança”, recebendo fogo do Forte Colonial; aliás, esse Forte era muito mal armado, foi repelido retornando ao largo. No dia seguinte, ainda sem o sol ter nascido, o Cruzador “República” entrou pela barra do sul, ao mesmo tempo que os Navios “Esperança” e “Urano” entravam pela barra norte.

Ao chegarem ao alcance de tiro de canhão da fortaleza, situada na Ilha do Mel, esta disparou contra eles as suas baterias, sendo logo o fogo correspondido por aqueles navios. Enquanto isso, o Navio “Pallas” desembarcou uma força expedicionária para a tomada do Forte.

A fortaleza deu apenas dezoito tiros, resultou e sua capitulação pelas forças que desembarcaram durante o canhoneiro. A guarnição do Forte conseguiu fugir, com exceção do comandante Manoel Gonçalves da Silva, que foi feito prisioneiro quando tentava evadir-se. Caindo o Forte, o Comandante Federalista do Batalhão “Fernando Machado” deixou ali 30 praças para guarnecer o Forte.

Dia 14 de Janeiro de 1894

Neste dia, os navios fundearam junto à ilha das Cobras; a população da cidade fugia aterrorizada. Chegavam reforços de tropas do governo para reforçar a defesa da cidade. Neste mesmo dia, foi substituída a guarda da cadeia que era feita pela Guarda Nacional pelo 111º Batalhão de São Paulo, composto por italianos e hispanos.

Dia 15 de Janeiro de 1894

No dia 15 pela manhã, dali zarparam os navios para enfrentarem a cidade de Paranaguá, receberam vivo e renhido fogo de 8 canhões Krupp’s, colocados no litoral da cidade e no Porto. Os navios então puseram-se ao largo fora do alcance das baterias inimigas, onde ancoraram a fim de esperar o Cruzador “Iris”, que levava o grosso das forças de desembarque.

Dia 15 e 16 de janeiro de 1894

As tropas entraram no centro da cidade através do Rio Itiberê. No dia 15 de janeiro de 1894, os escaleres com tropas foram desembarcados e amarrados, em linha, no Navio Mercante Adolfo de Barros. Ele tinha duas metralhadoras Nordfeldt, com as quais varria as margens onde estavam as tropas federais. Em frente ao Palácio Visconde de Nácar, estavam postados canhões sobre rodas, também, Nordfeldt. Quando o Navio atingiu o local onde fica a atual Capitania dos Portos, ele foi atingido por tiros de canhão e afundou. Os soldados desembarcaram no trapiche em frente ao Museu de Arqueologia e subiram a ladeira do Mercado.

Dia 15 e 16 de Janeiro de 1894

O historiador Rocha Pombo, quando de sua visita ao Rocio em 1896, descreveu a triste situação em que ficou a Igreja: “toda destruída”. Dos restos de materiais da Igreja foi construída a torre da Igreja de São Benedito. A invasão pela Estrada de Ferro foi a opção mais sangrenta para as tropas federais, constituída de jovens parnanguaras, que mal sabiam usar uma espingarda pica-pau e tiveram de enfrentar os guerreiros da Armada, que já tinham experiência da Guerra do Paraguai. Segundo o livro do Custódio de Melo, foram mais ou menos 150 soldados mortos em frente ao portão da Estrada de Ferro, segundo fontes de Paranaguá foram mais de 500 mortos ao total, na maioria jovens sem experiência em combate.

Dia 15 e 16 de janeiro de 1894

A uma hora da Tarde deste dia passava o “Iris” à frente das baterias inimigas e nas mesmas circunstâncias que as demais. As balas Florianistas (Legalistas) somente atingiram a chaminé do Cruzador “Urano” e duas granadas arrebentaram em cima do “Iris” espalhando diversos estilhaços pelo toldo, sem que acontecesse nenhuma fatalidade.

 Logo que este navio fundeou junto aos outros, o Almirante Melo reuniu-se com os capitães a bordo do “Republica” a fim de traçar os planos da ocupação da cidade, formados em fila todos os Cruzadores e Navios partiram para o ataque e desembarque num lugar denominado “Porto D’agua”.

O “Republica”, que seguia à frente dessa linha, colocou-se à frente a esse Porto e sustentou o fogo sobre esse local, ao mesmo tempo que os outros navios se aproximavam do local do desembarque. O “Urano” teve avaria no leme, e o “Iris” teve avarias na casa de máquinas. Silenciadas as baterias da cidade, o desembarque aconteceu sem quase nenhuma resistência, pelo batalhão “Fernando Machado” da Marinha e mais dois corpos do exército Federalista comandados pelo “Coronel Paim e Franklin”. Derrotada a guarnição, o Almirante ordenou aos navios que atracassem nas pontes para uma possível retirada, caso fosse necessário. Felizmente, ao anoitecer, a cidade estava em seu poder, com exceção da Cadeia Pública, na qual um contingente Legalista tinha se entrincheirado.

A cadeia foi cercada, mas não foi bombardeada porque lá havia mais ou menos 60 Federalistas (Maragatos), entre eles o Coronel Teóphilo, Mathias Bohn o Tenente Souza e Melo e muitos outros, que deviam, como todos os Maragatos, serem fuzilados no dia seguinte sob as ordens do General Pego Junior.

Felizmente, nesse dia 16, após negociações com garantia de vida, houve a capitulação da tropa Legalista (Pica-Paus). Ainda no dia 16 de Janeiro de 1894, o capitão legalista Julio Garcia, com 76 soldados, cercado por uma grande quantidade de Maragatos, tinha decidido resistir até o último homem. Theofilo Soares Gomes, um dos presos e líder dos revoltosos, deu sua palavra de honra de que, caso se entregassem aos Maragatos, seriam considerados seus hóspedes e teriam suas vidas respeitadas. Eles decidiram se entregar, e nada lhes aconteceu.

Pego Junior, que estava a caminho de Paranaguá, ao saber do ocorrido, retirou-se precipitadamente, levando consigo alguns oficiais e deixando o resto da tropa à sua própria sorte. Na realidade, Pego Junior poderia ter resistido e retardado o avanço dos revoltosos, bloqueando os caminhos da Serra na retirada, mas abandonou os trabalhos de obstrução, deixando inclusive armamentos para trás e abrindo o caminho para os revoltosos.

Em 16 de Janeiro, o Coronel Gomes Carneiro recebeu um telegrama na cidade da Lapa do General Pego Junior informando que Paranaguá havia capitulado e que estaria se retirando de Morretes para Curitiba, visando a defesa da Serra do Mar.

O capitão legalista Leon Sonis, francês de nascimento, foi encarregado pelo General Pego Junior de dinamitar o túnel da estrada de ferro, mas não cumpriu a ordem, pois havia trabalhado na construção do túnel e naturalmente avaliou o quanto o estado dependia daquele trecho da estrada de ferro, um dos mais belos túneis do país.

O Vice-governador Vicente Machado lançou mais um manifesto em 16 de janeiro de 1894, explicando ao povo que Paranaguá havia caído e pedindo o empenho de cada cidadão paranaense para lutar contra os revoltosos Maragatos. Retirou-se (fugiu) em direção a Castro no dia 18 de janeiro.

Após a queda de Paranaguá, um trem partiu para Curitiba, já que a estrada de ferro não havia sido obstruída, transportando o Almirante Custódio de Melo e figuras importantes da Marinha, além do Coronel Theofilo Soares Gomes, indicado por Custódio para ser o primeiro presidente do Paraná em regime Revolucionário.

Evidente que todo esse bombardeio ocasionou mortes e danos por toda cidade.

Os registros dão conta de que houve um bombardeio na cidade, o qual durou várias horas de arrasador fogo de artilharia e, embora o objetivo militar fosse a orla marítima, algumas balas da artilharia pesada dos navios de guerra atingiram o centro urbano, causando consideráveis danos na sede do Club Litterario, localizado nessa ocasião no sobrado da Rua XV de Novembro, e em casas próximas, entre elas da pintora Iria Corrêia.

Como já contado, ponte e a Igreja do Rocio foram praticamente destruídas, pois as paredes foram atingidas por tiros de canhão.

Contava o pesquisador Luiz Siqueira que : “pesquisando nos arquivos da Mitra Diocesana, encontramos relatos de soldados feridos por metralha, falecidos e enterrados no cemitério do hospital. Parece que é até intencional a ação de apagar a história de Paranaguá”, quando deveria ser preservado esse cemitério, a ação dos republicanos no poder em Paranaguá foi raspar a areia desse cemitério e jogá-la nos brejos da Costeira, ao lado do Rio da Independência, atualmente conhecido como Rio do Chumbo, devido a grande quantidade de projéteis de chumbo entranhada nas margens desse rio, durante a invasão de Paranaguá pela Armada.

Os pescadores apanhavam o chumbo e usavam em suas linhas de pescar como chumbada. “

A famosa “casa baleada” (na costeira) que por muitos anos mostrava em suas paredes sinais e avarias causadas pelo intenso ataque.

O relato de Alberico Figueira onde :  “Após os lutuosos dias de Revolução Federalista de 1894, os habitantes do litoral paranaense que ouviram o eco dos canhões do cruzador “República”, e de outros vasos de guerra, que bombardearam as fortificações do governo no bairro da Costeira, em Paranaguá, tiveram, por longo tempo, o espírito em sobressalto, e qualquer coisa que “cheirasse a pólvora” constituía, para eles, o maior pavor.

Rafael Greca, comenta sobre Ildefonso o Pereira Correia, o Barão do Serro Azul:  “Nasceu em Paranaguá, em 1849. Foi um visionário comerciante e exportador de erva-mate, além de presidente da Câmara Municipal de Curitiba, deputado e vice-presidente da Província.

Recebeu o título de Barão do Serro Azul em 1888. Foi um dos fundadores da Impressora Paranaense e muito contribuiu para o desenvolvimento econômico e cultural do Paraná.

Sua participação na Revolução Federalista de 1893 custou-lhe a vida. Em 1894, foi fuzilado no Km 65 da Estrada de Ferro Paranaguá – Curitiba pelos legalistas, junto com outros participantes da revolução. Ainda hoje ainda existe uma cruz que marca o local”.

Mais um acontecimento histórico pouco conhecido que deve ser sempre resgatado e lembrado em nossa cidade.

Colaboração do Club Litterario

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