conecte-se conosco

Cultura

Ilha do Mel tem lendas e histórias que resistem ao tempo

Relatos de moradores mais antigos compõem o ambiente encantado que atrai visitantes

Publicado

em

Foto: Nosso Litoral

Há quem diga que as incertezas das lendas da Ilha do Mel tornam o lugar ainda mais encantador. Reais ou não, várias lendas e histórias permeiam as comunidades da ilha e são contadas e difundidas para os visitantes que por ela passam a cada ano levando esses mistérios para todo o mundo.

Amani Fernando é marinheiro da travessia da Ilha do Mel e mora há 45 anos no local. Com o passar do tempo, além do conhecimento adquirido sobre o lugar e suas características pela vivência, fez o curso de guia de turismo e é turismólogo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

“Trabalho com turismo minha vida inteira, já fui guia de pesca e agora atendo com agências de receptivo em Pontal do Paraná. Meu foco é a parte de turismo de base comunitária e ações de turismo de mínimo impacto. Mas, muitas vezes, atendo grupos de turistas”, contou.

Sereias

Segundo ele, as lendas sempre fizeram parte da vida das comunidades na Ilha do Mel. A que mais chama a atenção dos visitantes é a das sereias da gruta de Encantadas. 

Diz a lenda que, na gruta de Encantadas, lindas mulheres apareciam em noite de luar e, com sua beleza e seus cantos sedutores, encantavam os visitantes, os quais se aproximavam da gruta e desapareciam misteriosamente para sempre. Desse enredo, vários relatos surgiram e se multiplicaram, resistindo ao tempo.

A lenda que mais chama a atenção dos visitantes é a das sereias da gruta de Encantadas
Foto: Nosso Litoral

“A comunidade chamava-se Prainhas da Ilha do Mel, por existir muitas Prainhas na Comunidade. Com a influência de moradores e união dos comerciantes ligados a propaganda, lançando a alteração do nome da Comunidade para Encantadas. Diz os antigos que as Prainhas que embelezavam nossa comunidade, já não se vê mais”, comentou Amani.

Amani também se recorda do relato das sereias contado por um morador que morreu com mais de cem anos na Ilha do Mel, o vô Lavino, e que já trazia a história de tios e outros familiares mais velhos. 

“Diz a lenda que um jovem pescador, mais feio e mais pobre, da vila das Prainhas, sempre ia ao costão das pedras para tentar se aproximar da sereia e ele foi encantado pela visualização dela, se apaixonaram. Ela pede para ele guardar segredo pois se tratava de um encanto. Pelo toque das mãos dela, ele se transforma em um jovem bonito e para representar o amor dos dois, a sereia dá um diamante de alto valor para que ele tenha importância dentro da vila e ele se torna rico. Depois de um tempo, ele relata o seu envolvimento com a sereia, quando comunica isso o encanto se quebra e ele vai para o espelho d´água e volta a ficar feio. E, assim, o seu Lavino diz que ficou a fama do povo da Ilha ser fofoqueiro. Essa história sempre termina com risadas”, concluiu Amani.

Amani Fernando mora há 45 anos na Ilha do Mel, onde trabalha com turismo, e tem como missão levar as histórias contadas pelos moradores mais antigos

História do Escravo Ladino

Também permeia entre os mais antigos da Ilha do Mel a história do Escravo Ladino.

“Esta está muito próxima da verdade, porque temos vestígios da escravidão na nossa comunidade. É mais uma história e não uma lenda. Para mim é algo verídico, meus tios avós já me contavam essa passagem do escravo Ladino que é bem interessante”, afirmou Amani.

A lenda contada por antigos moradores das prainhas diz que um senhor que habitava na pontinha que, toda vez que uma embarcação passasse com as riquezas que os europeus tiravam de terras, fazia o papel de conferente e pegava uma cota.

“Ele foi guardando toda essa riqueza e, como tinha escravos, e era um representante do rei, esse senhor tinha um escravo de confiança. Com a chegada de pessoas desembarcando nas prainhas, ele sentiu que sua riqueza estava ameaçada e chamou o escravo para esconder a riqueza e resolveram jogar no fundo da pontinha. O escravo de confiança jogava os sacos e o senhor acompanhava, quando chegou no último, o escravo encheu de pedra os sacos derramando no fundo da canoa toda a riqueza de dois sacos. Surpreendentemente, ao invés de voltar a canoa para a frente da casa para ser reconhecido pelo senhor, ele proou a canoa para um destino qualquer e nunca mais foi visto. Aos gritos, o senhor dizia: vai, vai, eu não te preciso mais”, contou.

Santuário de histórias

Para Amani, é importante e necessário manter a história viva para essa e para as próximas gerações. “Toda a oportunidade que tenho tento sensibilizar e informar autoridades, as pessoas da ilha, as escolas, de que a Ilha do Mel é um santuário de histórias do Paraná. Tem muita coisa nesses 400 anos de história. Acho que é importante contar para que as pessoas possam cuidar do povo da Ilha, que a comunidade tenha apoio para continuar lutando pela preservação da cultura, do seu jeito de ser, é uma batalha dentro da expansão do turismo de massa”, ressaltou o morador.

Em alta

plugins premium WordPress