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Coronavírus

Como o isolamento social afeta os relacionamentos familiares?

Psicólogo diz que ao invés de procurar por equilíbrio, propõe um passo mais humilde: o de suportar os desequilíbrios (Foto: Ilustrativa/freepik)

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Se conviver com as diferenças entre os membros da família nem sempre foi fácil antes da pandemia, tendo em vista o comportamento de cada ser humano, com as mudanças atuais esse relacionamento ficou ainda mais complicado. Essa convivência intensa se tornou para algumas famílias um problema, já que nem sempre os espaços de cada membro são respeitados e a convivência harmoniosa se torna um grande desafio. Vale lembrar que muitas famílias residem em casas pequenas e precisam se organizar para trabalhar e cuidar dos filhos, tudo isso em ambientes compartilhados.

O psicólogo e diretor de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Paranaguá, Felipe Carvalho, ajudou a entender a situação das famílias neste momento. “Em geral, podemos definir a família a partir de sua função de proteção mútua. É a partir disto que podemos inferir sobre o funcionamento familiar. Para além dos eventuais desentendimentos cotidianos, qualquer sinal de distúrbio nesta função, tão primordial, é sinal de problemas”, disse Carvalho.

“Isto dependerá da disposição familiar antes da pandemia, portanto não seria prudente inferir que a intensificação da convivência, por si só, seria ‘o remédio’ para uma crise ou dificuldade familiar pré-existente. Pelo contrário, a convivência intensa, em um contexto estressante como este de pandemia, pode ampliar os problemas que uma família já tinha. É por isso que se exige atenção redobrada quanto à questão da violência doméstica, por exemplo”, alertou o psicólogo.

Segundo ele, o período exige de todos um esforço emocional muito grande. “Em geral, estamos mais ansiosos, irritadiços e reativos, propensos a ações exacerbadas, o que se reflete no contexto familiar. Por isso é importante que se cultive, no núcleo familiar, o respeito às diferenças e o espaço para o diálogo. A manutenção saudável da hierarquia, o resgate das tradições e costumes particulares, a criação de uma rotina com suas regras e limites, o respeito aos espaços individuais, tudo isto coopera para um ambiente saudável”, sugeriu Carvalho.

Aceitar o desequilíbrio

Para o psicólogo, a exigência da sociedade por “manter o equilíbrio” não traz um conforto para as pessoas neste momento e talvez nem seja a melhor atitude. “Se fala muito em manter o equilíbrio, mas o que é isso? Como faz? Como manter o equilíbrio em um momento trágico como este de grandes perdas? Perda do cotidiano, do emprego, da saúde ou mesmo de uma pessoa querida. Como manter o equilíbrio quando até nossa liberdade foi restringida e aquele mundo de dois meses atrás deixou de existir? Seria adequado pedir equilíbrio a uma pessoa que teve seu auxílio emergencial negado, quando possui toda uma família para sustentar?”, expôs o profissional.

“Essa resposta, artificial, generalista, ‘enlatada’, pronta para o consumo, desconsidera o trágico da vida e que ela também é feita de momentos de tristeza, desespero e incertezas. Ela ignora que o ‘desequilíbrio’ é real e faz parte. Portanto, ao invés de procurar por esse equilíbrio, proponho um passo mais humilde e, talvez, humano: o de suportar os desequilíbrios, nossos e dos outros, com tolerância, respeito e empatia. Afinal, somos feitos de carne e osso (e palavras)”, concluiu Carvalho.

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