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Coronavírus

Atuante na linha de frente, psicóloga explica efeitos da pandemia na saúde mental

Angelica Martins atuou em Paranaguá com pacientes em tratamento do Coronavírus

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A pandemia da Covid-19 será um estigma eterno para a humanidade, pois contaminou e ceifou milhões de pessoas pelo mundo, trazendo prejuízos sanitários, assim como econômicos e sociais. Além disso, um dos sérios efeitos trazidos pelo Coronavírus às pessoas é também em torno da saúde mental. Segundo a psicóloga Angelica Martins da Silva Pereira, graduada e com pós-graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Saúde Mental e Dependência Química, a atuação dela na linha de frente no enfrentamento à pandemia em Paranaguá demonstrou quadros depressivos, de ansiedade, medo e traumas em pacientes e familiares, reforçando a importância do apoio psicológico profissional

Servidora municipal há 12 anos com cursos de capacitação nas áreas infanto-juvenil e adulto, Angelica Pereira ressalta que discussões e leituras profissionais estão trazendo luz aos efeitos e consequências psicológicas decorrentes do momento pandêmico que o mundo está enfrentando. “Percebeu-se que uma parcela significativa de indivíduos sentiram e expressaram uma ou mais alterações em seu estado de comodidade após o anúncio oficial da pandemia. O diferencial nas manifestações emocionais e a necessidade de intervenção profissional está relacionado com o grau (ou nível) de comprometimento que acarreta em prejuízo em algum âmbito da vida do indivíduo podendo ser de cunho pessoal, ocupacional, social e outros”, esclarece.

“No início da pandemia levantou-se como hipóteses de médio a longo prazos o aparecimento e aumento dos quadros de transtornos emocionais avaliados e constatados atualmente, no entanto que a atenção direcionada à saúde mental tem sido cada vez mais debatida, enfatizada e exigindo cuidados profissionais imediatos”, explica a psicóloga, que já trabalhou na Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e atualmente atua na Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), no Ambulatório de Saúde Mental.

Linha de frente em Paranaguá

Durante a pandemia, Angelica atuou na linha de frente do enfrentamento ao Coronavírus. “Segundo as pesquisas realizadas e divulgadas neste período , bem como de acordo com a prática do trabalho que realizei junto à equipe do Hospital de Campanha no João Paulo II em nosso município e de acordo com os atendimentos psicológicos realizados no Ambulatório de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) especificamente ao serviço ofertado à demanda pela Pandemia, pode-se dizer que os usuários atendidos presencialmente desses serviços tiveram e estão tendo que lidar com situações impactantes e traumáticas”, afirma.

“Nos casos dos internamentos no Hospital de Campanha, foram percebidas fragilidades humanas, sentimentos e emoções diversos frente à uma doença devastadora para pacientes, familiares e equipe multidisciplinar. As principais reações independentes do grau de manifestações estão relacionadas à ansiedade, medos, fobias, sono irregular, quadros depressivos, luto. Enfatizo o aumento das preocupações excessivas que englobam os quadros ansiógenos e os medos diversos como da contaminação do coronavírus, a expectativa e resultado positivo de exame, medo do internamento e possibilidade de intubação, medo da morte de si e/ou de pessoas queridas”, esclarece a profissional da saúde.

Apoio psicológico e distanciamento

Angelica afirma que a procura por apoio psicológico na pandemia está relacionada “à dificuldade do indivíduo em lidar com o estresse, traumas, medos, fobias, ansiedade, depressão, isolamento social ou outras alterações emocionais, comportamentais manifestados persistentemente e com  prejuízos em sua vida”, diz. “Quanto ao distanciamento entre os indivíduos como medida de segurança sanitária essencial, destaco o desencadeamento do isolamento social, aumentando e/ou potencializando sintomas ou quadros de transtornos mentais pré-existentes à pandemia, como por exemplos a depressão, fobia social, ansiedade generalizada”, afirma.

Segundo ela, é sabido que as relações sociais fazem parte constitutiva dos indivíduos, sendo que a necessidade repentina de afastamento um dos outros trouxe estranheza às pessoas. “Nos deparamos com a contenção de gestos de afeto inclusive entre os membros da própria família. Quantos abraços, beijos, apertos de mãos tiveram que ser contidos, sorrisos foram escondidos e os olhares muitas vezes interpretados em meio à turbulenta roda de emoções”, observa.

Vacina

Para a psicóloga, o surgimento da vacina contra a Covid-19 trouxe uma sensação de proteção e controle da doença, principalmente com esperança do controle epidemiológico do vírus, que é altamente contagioso.”Emocionalmente vivenciamos e compartilhamos sentimentos relacionados à esperança de melhoras à saúde física e consequentes benefícios ao mundo tão doentio. O avanço da ciência, a valorização do SUS, apoio das autoridades envolvidas com a responsabilidade esperada, oportunizou a tomada de recursos para o ‘controle da situação’ com a diminuição da contaminação, casos confirmados, internamentos e mortes. Somos responsáveis uns pelos outros neste período de enfrentamento à pandemia em prol da saúde e bem-estar coletivo”, acrescenta.

“Acredito que seguindo os protocolos assimilados e alertados pelos órgãos competentes de saúde, com a vacinação em massa e acelerada, a retomada  gradativa dos encontros presenciais entre os indivíduos permite delinear perspectivas conscientemente seguras de auto-cuidado visando a coletividade e assim a socialização poderá alcançar sua eficácia  no desenvolvimento humano”, ressalta a profissional.

Atuação do Estado em prol da saúde mental

De acordo com a psicóloga, a volta à chamada “normalidade”, “no meu ponto de vista em particular, é algo no viés da utopia. seu ponto de vista, é algo que está no viés da utopia”, completa. “Percebo que já estamos numa fase de enfrentamento e aprendendo a lidar com as consequências da pandemia na saúde mental, na economia, política e sociedade.  A implementação de políticas públicas e investimentos na área da saúde mental demandam cada vez mais olhar diferenciado e humanizado para que os indivíduos com danos emocionais ou comportamentais tenham a oportunidade de receber as devidas intervenções imediatas, com atuações técnicas e qualificadas dos profissionais. Protelar cuidados à saúde mental pode causar sequelas irreversíveis na vida do ser humano”, finaliza Angelica Martins.

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