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Ciência e Saúde

Fim do preconceito é fundamental para prevenção do suicídio

Campanha alerta para doenças como ansiedade e depressão

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O fim do preconceito com doenças mentais, como ansiedade e depressão, é fundamental para a prevenção ao suicídio. A afirmação é da coordenadora-geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Dilma Alves Teodoro, e também um dos alertas da campanha Setembro Amarelo, voltada para conscientização e prevenção ao suicídio.

“O preconceito faz as pessoas não buscarem ajuda. Muitas vezes elas escondem a doença porque o amigo ou familiar vai interpretá-las como uma pessoa que é fraca, que deveria reagir, quando, na verdade, ela está adoecida”, disse, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Dilma, ao diminuir o preconceito com essas doenças e o tabu sobre o assunto, pessoas que estão passando por algum sofrimento se sentirão mais à vontade para procurar ajuda profissional e ter um diagnóstico adequado, prevenindo possíveis tentativas de suicídio. Seja por razões religiosas, morais ou culturais, ainda há medo e vergonha em falar abertamente sobre o tema, que é um problema de saúde pública.

Por isso, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza a campanha Setembro Amarelo, que marca também o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, lembrado na quinta-feira, 10. 

A diretora do Instituto Bia Dote, Lucinaura Diógenes, de Fortaleza, sentiu na pele esse preconceito com a morte de sua filha Beatriz, por suicídio, em 2008. “Há respostas que o suicídio não traz. Foi muito impactante e mais impactante foi o que veio pós-suicídio. Depois, veio a questão do julgamento, os preconceitos, de as pessoas tratarem o suicídio como falta de Deus, e a família começar a se culpar. E, nesse processo todo, percebemos que outras pessoas no nosso entorno tinham passado por situação de suicídio e ninguém sabia porque elas silenciavam”, disse.

Após a criação do instituto, Lucinaura concluiu a graduação em psicologia e, com a equipe do Bia Dote, desenvolve projetos com diversos públicos, todos gratuitos, como atendimento psicoterápico, palestras em escolas, escuta especializada, intervenções urbanas e apoio e orientação para famílias enlutadas.

“Quando você tem um problema e não fala é como se ele não existisse. Então, trazer luz a esse problema pode te mostrar como é que ele pode ser minimizado. O homem, por natureza, não é suicida, o normal do ser humano é que ele se proteja. O que faz ele ter a ideação suicida é exatamente por estar em uma situação em que o sofrimento transborda e ele não encontra recursos para sair dessa situação. E, às vezes, com o outro, com ajuda especializada, ele consegue encontrar esses recursos”, explicou Lucinaura.

Sinais de alerta

A coordenadora do Ministério da Saúde explica que o suicídio pode ser prevenido e que há sinais que a famílias, os amigos e professores podem perceber, como o isolamento, desinteresse pelas atividades de que gostava, irritabilidade, falta de autocuidado, músicas e publicações mais tristes nas redes sociais e discursos que “a vida está mais difícil”. “São sinais que devem ser observados pela família, porque esse momento é de intervir, de chegar perto e conversar sobre o assunto, orientar para que a pessoa busque uma ajuda e se oferecer para acompanhar”, disse Dilma.

“Se considerar o momento que estamos vivendo, não só a saúde pública, mas questões econômicas e sociais também têm um peso significativo. Os dados mostram que países em situações de crise grave, de calamidade, têm um risco aumentado de tentativas de suicídio”, disse.

Por isso, durante esse período, o Instituto Bia Dote abriu um canal de plantão psicológico. A diretora Lucinaura conta que a equipe fez diversos atendimentos de urgência de pessoas em situação de crise, de ansiedade, depressão e pânico, inclusive algumas com ideação suicida.

Atualmente, o canal está funcionando de terça a quinta-feira, por ligação ou WhatsApp, no número (85) 99842-0403.

Onde buscar ajuda

O Ministério da Saúde também entende o suicídio como uma emergência médica, que precisa de uma intervenção imediata. Por isso, a orientação é que se busque o serviço de urgência e emergência para um primeiro atendimento e encaminhamento para profissional especializado. Há, inclusive, iniciativas em alguns Estados onde o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – 192 (Samu) possui equipes de saúde mental, como no Distrito Federal.

A rede pública possui ainda os Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e serviços de ambulatório, em unidades básicas de saúde, que funcionam com equipes multidisciplinares para atender a população.

Na Internet, é possível localizar em sites especializados com informações sobre prevenção ao suicídio. Além do site da campanha Setembro Amarelo, o Ministério da Saúde também possui cartilhas e orientações sobre os sinais de alerta e como buscar ajuda.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) também realiza apoio emocional e de prevenção do suicídio, e atende todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, chat e-mail, 24 horas por dia, todos os dias da semana. A ligação para o CVV, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer telefone fixo ou celular.

O Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, com apoio do Google, lançou este ano o Mapa da Saúde Mental que traz um guia de ajuda e lista os serviços públicos disponíveis em todo território nacional, além de serviços de acolhimento e atendimento gratuitos ou voluntários realizados por organizações não governamentais, instituições filantrópicas, clínicas escola, entre outros.

Para Lucinaura Diógenes, a questão do suicídio precisa ser tratada de forma mais ampla por outros setores da sociedade e outras ciências além da saúde, como sociais, econômicas e teológicas. “Precisamos mudar o olhar sobre essa questão para que possa reverberar em uma mudança de paradigmas. Cada pessoa precisa assumir esse papel de agente de transformação, porque não é um papel só da ciência, só das pessoas que trabalham com a saúde mental, é um papel da sociedade”, disse.

Fonte: Agência Brasil

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