A maternidade e a paternidade hoje são escolhas que cada um, de acordo com seus sonhos e propósitos, deseja ou não concretizar em suas vidas. Para o administrador Adan Carlos Silva, ser pai não estava nos planos. Mas a vida, às vezes, prega peças e cria situações que as pessoas jamais poderiam imaginar. A peça, de forma positiva, foi Veríssimo da Silva, hoje com 15 anos, filho adotivo de Adan.
A história começa com Adan conhecendo Veríssimo, quando este ainda era bem pequeno, com cerca de cinco anos.
“Primeiro, eu o apadrinhei. A pessoa com quem eu tinha uma relação antes tinha contato com os pais dele e o Veríssimo estava em uma situação de vulnerabilidade. Ele ficava sempre no ponto de chamada dos sindicatos na área portuária e me coloquei à disposição para ajudar, passava lá e deixava um alimento, coisas nesse sentido”, contou Adan.
O pai biológico dele ia trabalhar e ele ficava sozinho. Até que em uma noite muita fria, passando em frente ao local, encontrei novamente Veríssimo. “Me cortou o coração quando o vi indo dormir em um banco. Conversei com o pai para que eu pudesse levá-lo para dormir em casa. Assim, fomos criando um vínculo. Ele começou a ficar de segunda à sexta-feira à noite na minha casa e, aos fins de semana, com o pai. Consegui a matrícula dele na Escola Costa e Silva e, nesta época, o pai dele ganhou uma ação na justiça e mudou de vida”, relatou Adan.
Depois de um certo tempo, o pai biológico teve problemas com drogadição e o Conselho Tutelar precisou retirar o menino da casa onde ele residia.
“Levaram-no ao lar e o Conselho me procurou porque o Veríssimo dizia que queria ficar com o ‘tio Adan’. Foram na casa dos avós, dos irmãos e dos tios procurando por mim e ninguém pôde ficar com ele. A assistente social me procurou e perguntou da possibilidade de eu ficar e eu não pensei duas vezes”, destacou Adan.
PROCESSO DE ADOÇÃO
Após essa decisão, Veríssimo passou a conviver com o tio/pai Adan, que entrou na Justiça com o processo de guarda provisória, levando dois anos para ser finalizada. Logo em seguida, entrou com o de adoção, que foi concretizado somente em fevereiro deste ano.
“A assistente social foi muito clara comigo. Ela me disse que eu não tinha obrigação nenhuma de ficar com ele. Mas eu aceitei na hora. Nunca tinha pensado em ser pai. Meus empregos sempre me exigiram muitas responsabilidades e eu nunca pensei que seria responsável por uma vida. Quando eu disse sim para a assistente social, passou um filme na minha cabeça. Eu olhei para ele e vi que não poderia dizer não. A minha família me apoiou muito e me ofereceu ajuda, assim como meus amigos e ele sempre foi muito amado”, afirmou Adan.
Mesmo atendendo por “tio Adan”, não há quem possa dizer que a relação construída por ambos não é a de pai e filho. “Ele me chama de tio, mas ele sabe que sou o pai dele. É um amor muito grande, ele é muito companheiro, e graças a Deus deu muito certo a nossa convivência”, ressaltou Adan.
PATERNIDADE E MUDANÇAS
O papel de pai também inclui muitas responsabilidades, o que o fez mudar os planos que tinha. “Sempre penso nele em primeiro lugar em todas as minhas decisões. Mudou muito. Eu tinha muitos planos para mim. Hoje eu tenho muitos planos para ele e sou muito protetor. Eu vejo que ele cresceu muito, mas que nunca se esqueceu de onde ele veio. Ele nunca perdeu o vínculo com os irmãos biológicos”, disse Adan.
Criar um adolescente de 15 anos, sozinho, é um desafio para qualquer um. No entanto, o companheirismo é fortalecido dia após dia.
“EU SOU PAI”
Segundo ele, todos os pais têm as suas responsabilidades, se deparam com problemas e têm dificuldades em tomar decisões. “Mas o viver o dia a dia com o filho é um momento sagrado. A gente diz sempre que está apurado para resolver as coisas, mas eles precisam da gente e a gente também precisa deles. Eu não me arrependo nem um pouco de ter parado e dividido aquilo que eu queria ter para mim profissional e pessoalmente e ter pensado nele. Toda manhã eu acordo ele, vejo que é um milagre de vida e que eu sou pai”, concluiu Adan.