Gosto do mês de novembro, o mês da véspera – véspera de dezembro – o fecho do ano. Mas gosto, sobretudo, de recordar os novembros da minha infância, da minha juventude. Naquele tempo em que o considerava um mês pequenino, porque eu o vivia inteiramente em função da Festa do Rocio: As novenas e os dois dias da festa. Onze dias desfrutados com alegria e devoção. Os demais eram para relembrar as horas felizes vividas. O Rocio ficava longe do centro da cidade, as ruas de acesso eram precárias e a caminhada, um sacrifício….Mas como valia a pena! As pessoas iam em grupos e as conversas, sempre animadas. Os ônibus só se tornaram acessíveis quando inventaram as filas.
Antes, apanhar um deles requeria muita determinação. As crianças não se arriscavam tal era a desordem comandando o empurra, empurra. Recuando mais no tempo, bom e romântico era ir ao Rocio em bondinhos. A viagem era lenta, mas pitoresca, não só pela singela do transporte, mas também pelas surpresas que podiam ocorrer. Ninguém podia prever os possíveis descarrilamentos. Quando ocorriam era um deus-nos-acuda! Medo e brincadeiras se mesclavam e transformavam o transporte em verdadeira aventura!A chegada ao Rocio era um encantamento que nos fazia esquecer os atropelos ocorridos no trajeto. A igreja, naquele cenário tão simples e belo pela exuberância das árvores, pela placidez das águas do mar tocando de leve no barranco… As altas palmeiras, quais sentinelas a guardar a morada da Santa, saudavam os romeiros tocadas pelo vento como a nos dar boas-vindas…
Havia, como hoje, os vendedores ambulantes em volta da igreja, só que o que se comprava eram deliciosas cocadas, paçoca de amendoim, brinquedos feitos de papel colorido e, claro, os indispensáveis chama-namoros. Ninguém ia ao Rocio para fazer compras. Ia-se mesmo para assistir às novenas e acompanhar as procissões de vinda e de retorno. O Rocio era um santuário de Fé. O culto à Virgem Maria era um dever assumido com devotamento, não só pelos parnanguaras, como também pelos romeiros vindos de vários pontos do Paraná. A segunda feira, então, era a festa dos parnanguaras. Acompanhava-se a santinha bem cedo na procissão do retorno e passava-se todo o dia no Rocio, em horas intermináveis e deliciosas marcadas pela simplicidade e alegria de viver.