Todo mundo concorda que errar é humano. E, assim, tendo a frase como escudo, vamos cometendo as nossas falhas, os nossos enganos, vamos magoando, ferindo, às vezes pedindo desculpas, outras não… Conscientes, embora da nossa fraqueza, tratamos com superioridade os animais, que não erram porque não são humanos – talvez por isso Roberto Carlos canta que queria ser civilizado como os animais. Está bem: o erro é prerrogativa dos homens. E a perfeição? É privilégio só de Deus? Teria o criador, ao moldar o homem à sua semelhança, lhe negado essa dádiva? Ou é mais um pretexto a que se escora o homem para não se libertar do comodismo e entregar-se a uma existência vazia, de horizontes fechados? Mas, não! Olhemos em torno de nós: juntamente com as perfeições da natureza há também criações maravilhosas de alguns homens.
Quantas vezes já não nos detivemos ante um quadro pintado e ficamos mudos tolhidos pela emoção ante a perfeição artística? E quantas e quantas músicas já nos elevaram a uma esfera de suprema beleza? E as incontáveis páginas escritas que descortinaram para nós lugares e criaturas extraordinários?
A perfeição existe sim; é inerente ao homem, talvez em muito maior escala que o erro. Só que para o erro não há necessidade de esforço. E a perfeição exige, acima de tudo, entusiasmo e é essa faculdade que parece estar desaparecendo. Porque entusiasmo depende de estímulo o qual nós vivemos negando aos que nos cercam, e, contudo é tão simples… Que custa, a nós, dizermos a nossos filhos, a nossos amigos um muito bem, ou está ótimo, quando algo bom foi feito por eles? Que custa ao chefe elogiar sinceramente o trabalho do seu empregado? E o professor em sala de aula, quanto não conseguirá de seus alunos com o aplauso na hora certa? E nós mesmos não ficamos intimamente gratificados quando dão valor ao que fazemos? Uma comida preparada, uma costura, um bordado, uma promoção, um gesto…
Por que nos fecharmos em indiferença às coisas boas realizadas? Negando o elogio merecido não estaremos revelando uma ponta de inveja? Quantas carreiras tolhidas, quantas vocações sufocadas pela falta do estímulo, do incentivo no momento preciso. Enaltecer alguém merecidamente, é tão fácil, é tão bom, é tão humano!
Por Ivone Marques