Quarenta dias após a grande festa da Páscoa, a Igreja celebra a cada ano a Ascensão do Senhor aos Céus. Jesus Cristo – aquele que nasceu de Maria por obra do Espírito Santo, fazendo-se, desse modo, em tudo igual a nós, menos no pecado –, após ser crucificado, morto e sepultado, “desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso” (Creio Apostólico). A Ascensão de Jesus aos Céus “já é nossa vitória. […] pois, membros de seu corpo – ou seja, sua Igreja –, somos chamados na esperança a participar da sua glória”. Celebramos tal vitória e glorificação já realizadas em Maria, na solenidade de sua Assunção aos Céus. O Apóstolo Paulo nos ensina a respeito da glorificação dos membros do Corpo de Cristo ao dizer que: “Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. […] Como em Adão todos morreram, assim em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, na sua própria ordem. […] O último inimigo a ser destruído será a morte” (1Cor 15,20-26).
Os dados históricos a respeito deste elemento da fé remontam seguramente ao século 5º, e nos ajudam a compreender que a Igreja, em sua Liturgia, cerca de mais de 1300 anos antes que o Papa Pio XII (1.º de novembro de 1950) declarasse a Assunção de Maria como verdade de fé divinamente revelada, já honrava Maria no mistério de sua glorificação. É importante recordar que essa doutrina da Assunção foi, posteriormente, reafirmada pelo Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja, Lumen Gentium, n. 59: “Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como Rainha do universo, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte”. Deste modo, Maria aparece profundamente ligada ao Filho e à Igreja, da qual ela é membro grandioso. “Maria é uma parte da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas apesar disso membro do corpo total. […] A cabeça é o Senhor, e Cristo total é a cabeça e o corpo”, ensina Santo Agostinho.
Celebrar essa festa desperta em nossos corações a esperança e a gratidão. Esperança de, vivendo atentos às coisas do alto, podermos participar um dia com Maria da glória de seu Filho, Jesus Cristo, nosso Salvador. Gratidão a Deus pela vida e missão dos religiosos, mulheres e homens que embelezam o “Jardim da Igreja” com a vivência dos votos de pobreza, obediência e castidade, assumidos à luz de um dos muitos carismas que o Espírito Santo tem suscitado na Igreja. Tal esperança de glorificação revela-se também pelo fato de os Bispos do Brasil termos escolhido este Dia da Assunção para rezar por todos os mortos pela pandemia do novo coronavírus: “Em Cristo todos receberão a vida. […] O último inimigo a ser destruído será a morte” (1Cor 15,22.26). Sim, cremos que na Assunção de Maria aos Céus se realiza a Promessa de que todos seremos inteiramente “assumidos” por Deus, por ele glorificados; primeiro Cristo, a Cabeça, depois os membros do seu Corpo, a Igreja. Reconhecemos que a solidariedade fraterna da oração é necessária neste momento de tristeza e grande dor.