Os meios de comunicação, especialmente as redes sociais, têm proporcionado informações quase sempre em tempo real sobre o crescente número de pessoas que, em nosso país e no mundo inteiro, sofrem injustiça e padecem na miséria. Tais informações suscitam em nós vagos sentimentos de compaixão e de culpa. Ao mesmo tempo, realçam nossa impotência: de fato o mundo está assim e não podemos mudá-lo. E começamos a esperar que a sociedade mude, tornando-se menos injusta e corrupta, para então conseguirmos realizar algo em favor dessas pessoas. Tal pensamento desonera nossa consciência: quando os outros mudarem, eu mudarei também.
O terceiro domingo do Advento (Lc 3,10-18) nos arranca dessa falsa tranquilidade. Aquele que grita “preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas” está no deserto, realizando um batismo de conversão. Aos que dele se aproximavam, dizia: “Façam coisas para provar que vocês se converteram”. A atitude de conversão a Deus requer obras que a manifestem. Então as multidões, ao invés de se retirarem, impotentes e desculpando-se por não poderem realizar mudanças, perguntaram ao profeta: “Que devemos fazer?”. Àquela gente desejosa de conversão, João respondeu: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa”.
Essas palavras extremamente simples, diretas e desconcertantes nos interpelam e revelam quem realmente somos, como temos vivido. Desmascaram um diluído sentimentalismo religioso e põem fim à nossa falsa boa vontade e às muitas boas intenções que temos. Portanto, a questão fundamental é: Somos solidários ou não?
Temos coragem de participar dessa multidão, perguntando também: “E nós, que devemos fazer?”. Aos cobradores de impostos, João disse: “Não cobrem nada além da taxa estabelecida”. Aos soldados que o procuraram, respondeu: “Não maltratem ninguém; não façam acusações falsas e fiquem contentes com o salário de vocês”. E o que ele responderia a você e a mim? Certamente nos daria uma resposta adequada ao nosso modo de viver, insistindo sobre o mais importante: mostrar nossa mudança interior por meio de ações solidárias em favor das pessoas sofredoras e necessitadas. Nesse caso, nossas palavras e ações, discursos e obras precisam ser coerentes e estar a serviço de um mesmo ideal: socorrer as pessoas que sofrem.
Essa proposta nos arranca as máscaras, não as que devemos usar neste tempo de pandemia, mas aquelas que nos escondem atrás de falsas seguranças de um espiritualismo religioso, que não nos comprometem com um processo de conversão sincera e, por isso, nos mantêm indiferentes aos gritos de milhões de sofredores, a começar pelos que recolhem comida do lixo perto de nossas casas.
Desejo que este domingo seja para nós o que ele significa para o Tempo do Advento, um domingo de alegria: “Fiquem sempre alegres no Senhor! Repito: fiquem alegres! Que a bondade de vocês seja notada por todos. O Senhor está próximo.” (Fl 4,4-5).
Não deixemos que nos roubem a alegria!