O desejo de amar e de ser amado habita o coração de cada pessoa. Provavelmente o “Eu te amor” esteja entre as expressões mais usadas por todos nós. Somos, pois, atraídos por uma experiência de amor que seja autêntica, sólida, fecunda, fiel e, por isso, duradoura. Ao mesmo tempo, cada vez mais – ainda que seja paradoxal –, esse ideal é ridicularizado e ofuscado, como se pudéssemos ser felizes envolvidos em relações superficiais e passageiras. Teríamos medo de nos entregarmos responsavelmente à pessoa amada
O Evangelho desse 27.º Domingo do Tempo Comum (Marcos 10,2-16) propõe um modo de viver o amor que supera a dureza do coração e une as pessoas, fazendo daquelas que se amam “uma só carne”. Os fariseus, que se consideravam “santos”, separadas dos impuros, e intérpretes rigorosos da Lei, prepararam uma armadilha para Jesus; “perguntam se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher”. Não perguntaram se era lícito à esposa repudiar seu marido. Isso nem passava pela cabeça deles. Jesus, então, pode revelar a eles e também a nós o coração de Deus, afirmando: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher”. Mostrava, desse modo, que tal interpretação da lei estava superada e que a igualdade de gênero é da vontade de Deus desde a criação. E, além disso, assegurava que o nome de Deus não deveria ser usado para sustentar uma atitude machista, que permitia ao homem mandar embora sua mulher, a qual, via de regra, caia na marginalidade e na miséria.
Mas o divórcio e os casais em nova união, de fato, existem. O que fazer? Primeiramente, no dizer de Francisco, é preciso “defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que vivem o seu matrimônio como um espaço onde se manifesta o amor divino; […] defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente”. A essa atitude misericordiosa, deve-se unir aquela de não apontar “o dedo para julgar os outros, mas […] cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia”, a exemplo do bom samaritano; estar sempre “com as portas abertas para acolher todo aquele que bate pedindo ajuda e apoio”. Em tudo, portanto, com amor verdadeiro, “caminhar com a humanidade ferida, para a integrar e conduzir à fonte de salvação”, pois, Jesus, veio para chamar os pecadores e não os justos e para cuidar dos enfermos e não dos que têm saúde. Assim, enquanto devemos combater o mal, a pessoa que erra deve sempre ser compreendida e amada por todos nós.
Enfim, a compreensão de que o amor humano é abençoado por Deus sustenta o empenho das pessoas que se amam para que procurarem, com alegria, viver o amor cotidiano, o qual durará para sempre. Sim, não deixemos que nos roubem o ideal do amor mútuo e duradouro.