Não é novidade que a atividade de pesquisa e desenvolvimento vive tempos difíceis no Brasil.
O país vem caindo no ranking mundial de pesquisa científica. Há dificuldades estruturais. Excesso de burocracia, cortes nos recursos, nas pesquisas nas universidades, poucas oportunidades de financiamento, baixa remuneração de profissionais, e até fuga de cérebros, cooptados por países industrializados.
Por isso deixamos de receber investimentos, que gerariam empregos e divisas. Deixamos de descobrir e explorar princípios ativos para a produção de medicamentos ou desenvolver novos materiais e processos.
Um dos problemas, aponta o empresário e pesquisador Paulo Fernandes, é que a pesquisa no Brasil é toda direcionada e financiada pelo setor público, que é muito desconectado do mercado, de quem produz, centralizada nas instituições públicas de ensino superior e institutos públicos, onde pesquisadores preferem publicar trabalhos em em veículos especializados e progredir na carreira, a desenvolver novos produtos, métodos de trabalho ou processos de produção.
E a evidência, segundo Fernandes, é que vários editais abertos pela Finep ou CNPQ, são elaborados com requisitos e documentos para qualificação que entidades privadas não têm.
“Minha empresa produz pesquisas focadas no mercado e várias vezes tivemos que arguir e invocar o princípio da isonomia ao órgão que publicou o edital, para que a pesquisa não fique restrita às instituições públicas”, relata ele.
Uma exceção, exemplifica Fernandes, são projetos financiados pela Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, que obriga concessionárias de energia a aplicar um percentual do resultado líquido em pesquisa e desenvolvimento que melhore a performance do setor elétrico. Funciona porque a concessionária tem um problema tecnológico e vai pesquisar como melhorar.
Fernandes diz que o crédito para inovação está disponível para pesquisa privada em bancos de desenvolvimento e agências de fomento. Os juros são vantajosos em relação ao mercado e cobre-se o desenvolvimento do produto novo, o protótipo e o “cabeça de série”.
Entretanto, quando uma indústria passa de um produto tradicional para um novo, tem uma queda de receita significativa — o cliente hesita na troca de uma tecnologia ou produto que ainda não conhece. E não existe linha de crédito que cubra essa queda de receita. O empreendedor arca com recursos que talvez sejam mais importantes que o financiamento tecnológico, que pode ser barato, mas a queda de receita pode ser muito maior na hora de retomar o negócio.