Um fato que ficou marcado para sempre em minha memória foi a passagem longa realizada por mim e mais um grupo de estudantes universitários ou não para uma realização extraordinária.
Eu tinha apenas 16 anos de idade, estava no 1º ano do Magistério. Era o ano de 1970, época da repressão, o Brasil foi Tri campeão do mundo, entre outras coisas.
Estudava no Instituto de Educação e recebemos a visita de professores de Educação Física, Antropologia, Arqueologia, Geologia e um Sargento do Exército.
Muitos alunos foram convidados participar e eu, é claro, estava lá, como sempre nunca ficava fora de qualquer evento que havia.
Finalmente o grande dia chegou. Final de inverno, sete hora de uma manhã com muito nevoeiro, mas não choveu, o que seria impossível realizar.
Chegamos e os professores já estavam nos esperando na entrada do túnel da Fontinha com camisetas, máscaras e luvas, nada de trajes chiques, maquiagem, mas sim uma expedição exploradora para o desconhecido até então.
Entramos às sete horas e trinta. Começamos devagar, ouvindo debaixo da terra os carros passando, lentamente seguindo as orientações do líder da expedição, o sargento do Exército. Ele dava as coordenadas, estava acostumado a este exercício. A travessia é oblíqua, atravessar a cidade não era para qualquer um. Muitas vezes conforme o terreno, ora ficava alto, baixo, ficávamos de joelhos ou rastejando pelo chão. Ficar de pé era impossível. A caminhada era lenta, sem pressa, várias lanternas para iluminar o caminho.
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Quando chagamos na Estrada Velha dos Correias foi feita uma longa parada para o devido descanso, fila indiana, não podia ser de outra maneira. Duas horas depois continuamos a travessia, tornando-se cada vez mais difícil. Percorremos mais uns 1800 metros, impossível de concluir o trajeto até desembocar no túnel que deu origem ao bairro Porto dos Padre.
O regresso dessa proeza impressionante foi que os que estavam por último eram os primeiros e os primeiros, os últimos
Na volta, mais cuidados ainda, alguns alunos com muito medo.
Chegamos na entrada do túnel exatamente às 18 horas e um professor falou: “É hora da Ave Maria”. Assim, conseguimos fazer uma prece ao Senhor pela grande jornada percorrida e que deu tudo certo, agradecemos pelo retorno sem problema algum.
Exatamente 23 anos depois desta façanha, fui trabalhar no Instituto de Educação, na Escola Berta Rodrigues Elias, conheci dona Laudelina, Laude como era chamada, contei a ela a travessia da Fontinha e ela me contou que o túnel finalmente dava para o quintal da casa dela. E ela vendeu a casa, mas com os novos donos, ela me levou para conhecer o local, no qual estou relatando a todos.
Hoje não sei como está!
Sônia do Russio Machado
Historiadora, membro do IHGP