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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

O flautista Rogê da Costa

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Por volta da década de 1970, morava em frente à nossa casa, na rua Mestre Leopoldino, o popular compositor e exímio flautista Rogê da Costa. Foi uma época de intensa atividade musical. Eu, como professora, vivia às voltas com os corais e festivais de música.  Rogê, como músico profissional, mantinha um “conjunto regional” muito bem entrosado que animava as inúmeras festas e bailes da cidade.  O regional ensaiava à noite.  Mas, durante o dia, Rogê tocava horas a fio, estudando para manter a perfeição técnica na execução do instrumento. Acordava cedo e fazia ecoar pela rua o som das belíssimas melodias que ele mesmo compunha e executava com muito sentimento. Esses concertos matinais incluíam também músicas de Pixinguinha, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo, Canhoto e tantos outros da “Velha Guarda”, dos antigos Regionais. Frequentemente, Rogê compunha uma nova música, o maestro Nivaldo Calado da Silva escrevia a partitura para piano e, via de regra, eu era presenteada com uma cópia.  Fui guardando cuidadosamente as suas composições e sempre as tocava. Eram realmente muito bonitas.

Certo dia, Rogê vendeu a sua casa e mudou-se. A rua ficou silenciosa e triste, sentindo a falta do velho som das serestas, dos chorinhos sapecas e das valsas dolentes. Depois de um longo período de ausência, Rogê reapareceu muito triste e acabrunhado, contando que a sua casa havia sido assaltada e que, entre outras coisas, o ladrão havia levado as partituras das suas músicas. E sabe o que fizeram? Contou:  “Jogaram a flauta no chão quebrando algumas varetas e, veja só: uma flauta italiana, que vale uma fortuna, não quiseram. Mas levaram as minhas partituras, lamentou. E eu estou muito aborrecido, porque afinal de contas, foram tantos anos de trabalho…”   Imediatamente tranquilizei o velho artista, pois pelo menos, as partituras que ficaram comigo estavam salvas. Mas também, por pura sorte, porque na visita que fizeram à minha casa, os larápios preferiram levar um aparelho de som, sem mexer nas partituras. Assim, devolvi as músicas ao seu dono e não sei que fim levaram.

Outro dia, caminhando pelo bairro do Bockman, passei por uma rua e li a placa:  “Travessa Rogê da Costa”. Fiquei muito feliz pela justa homenagem feita aquele que além de ter sido um grande músico, amou Paranaguá e dedicou muitas de suas composições a esta terra. Homenagem mais que merecida ao músico que animou festas e bailes com o seu Conjunto Regional, embalando corações apaixonados e espalhando alegria por todos os cantos da cidade. Hoje, nos resta a saudade e a lembrança de um homem simples, que tirava “de ouvido” e interpretava com perfeição as mais difíceis melodias. E que compunha canções belíssimas, sem conhecer as complicadas regras da teoria musical. Noel Rosa já dizia que “ninguém aprende samba no colégio”. Em música, o que conta é a sensibilidade, o dom, a inspiração e, sobretudo o amor, que faz com que o artista toque, às vezes uma noite inteira, como fazia Rogê, somente pelo prazer de tocar.Foi um grande privilégio ter conhecido, convivido e participado de reuniões onde tive o prazer de tocar piano para acompanhar o nosso saudoso Rogê  e sua flauta mágica.

Professora Maria Helena Mendes Nízio

Departamento de Folclore IHGP-Biênio 2023-2024

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