A “terra querida que nos viu nascer” acendeu mais uma velinha no dia 11 de março, esperançosa no vindouro, quem sabe, ansiando o brilho nos olhos dos seus filhos como que um alento ao desmazelo. A vovozinha do Paraná viu ainda no século XVI as pegadas dos luso-colonizadores em nosso solo, buscando o afamado ouro que se noticiara (1640). Suas gerações já miscigenadas com os originários, também os introduzidos ao trabalho escravizado, não hesitaram em acreditar no potencial da futura freguesia, avivando as margens dos seus rios com núcleos de povoamento. Pouco tempo depois, em 1880, este pedaço de terra conquistou a sua emancipação, Município de Guaraqueçaba, sob as bênçãos do Senhor Bom Jesus dos Perdões.
No início do século XX, as exportações de madeira, palmito, frutos do mar, além da banana e do arroz movimentaram a economia e o porto de Guaraqueçaba. Os anos se passaram, um após o outro, e desde 1870 que existem registros sobre os anseios da construção de uma estrada que ligasse a vila ao progresso. Até a abertura da PR-405, quando o lamento deu vez a alegria com a afamada “Estrada da Redenção” (1970) anunciando, enfim, o adentrar a então “moderna civilização do século XX”. Posteriormente, devido às péssimas condições de trafegabilidade, houve o consequente isolamento de um povo e as amarguras deixadas pela velha politicagem; o mesmo enredo se viu acontecer com o potente Canal do Varadouro (1954).
A energia elétrica chegou em 1979, desligando o velho gerador, apagando de vez as lamparinas e apresentando as novidades do rádio e da televisão, parecia ser um novo suspiro ao Guaraqueçabano, mas a querosene, secular objeto de iluminação, ainda é utilizado com muita frequência para deleite daqueles que o guardaram. Em pleno século XXI, a eletricidade mesmo não chega às dezenas de comunidades que ainda adormecem ao suave canto das cigarras e acordam com as primeiras cantigas do galo. Os tempos mudaram, é certo, os costumes são outros, as pessoas são quase desconhecidas e a “Terrinha” têm grandes desafios. Entre eles, o distanciamento do grande centro, falta de oferta de serviços e auxílios essenciais, cuidados médicos, a equivocada legislação restritiva e punitiva que cerceiam as formas de vida de seu povo, aliada à inconsistente insegurança. Todos os desafios nos fazem mergulhar em temores para o futuro que nos aguarda, em consonância às incertezas decorrentes de nossas estruturas deficitárias que nos despontam ao menor IDH do Estado do Paraná, aditando o nosso lamento.
Em 2023, acendemos mais uma velinha. Parabéns amada Guaraqueçaba! Reacendamos a quinhentista chama da esperança, ávidos por trilhar o desenvolvimento – economia, natureza e sociedade. Guaraqueçaba se redescobre e se debruçando no turismo, apresenta seu legado de preservação ambiental (Reserva da Biosfera; Patrimônio Natural da Humanidade), seu rico patrimônio histórico-cultural com bens reconhecidos (Patrimônio Cultural do Brasil), com saberes e fazeres que faz de seu povo – Caiçara, Quilombola, originário, o seu maior tesouro, incrustrado na Mata Atlântica. Que o Criador e sua caneta do sagrado destino, trace linhas fidedignas à resistência de nosso Povo. E que venham os 500 anos, um novo capítulo onde o suspiro dos seus filhos transborde em prazerosa alegria, de voltar à sua terra, de viver na sua terra querida que nos viu nascer e de ser Guaraqueçabano.
Prof. Ms. Zé Muniz
Historiador e pesquisador convidado