História, Memória e Patrimônio

O Martador

Orlando narrou um episódio que ouvira em suas andanças: em Ararapira, ou nas proximidades, vivia um homem conhecido como “Matador”

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Costumamos resgatar histórias que ilustram a vida nas cidades litorâneas e nas comunidades caiçaras. Uma dessas histórias foi contada por Orlando, um amigo que, durante suas viagens pelo projeto “Brasil 500 Anos”, fotografava os costumes e paisagens dessas regiões.

foto matador

Orlando narrou um episódio que ouvira em suas andanças: em Ararapira, ou nas proximidades, vivia um homem conhecido como “Matador”. Era um sujeito temido, descrito como violento, que costumava disparar tiros de revólver contra qualquer um que passasse próximo ao seu rancho. A fama de sua fúria espalhou-se pela região, a ponto de todos evitarem o lugar. Diziam, ainda, que ele havia assassinado um homem durante um baile de fandango em Superagüi, o que apenas reforçava seu temível apelido.

Os pescadores e canoeiros, ao navegar pela região, alertavam com seriedade:
“Abaixem-se quando passarem perto da barranca, pois o Matador atira nos barcos!”

Esse temor era algo corriqueiro nas décadas de 1970 e 1980, quando sua presença impunha respeito e medo.

Certo dia, enquanto Orlando estava hospedado em uma pousada em Superagüi, uma cena peculiar chamou sua atenção. Uma canoa se aproximou da praia trazendo um caixão, que foi cuidadosamente deixado sobre a areia. Os canoeiros que transportavam o caixão murmuraram:
“Esse aí é o Matador. Alguém virá enterrá-lo.”
Logo após, partiram às pressas, como se receassem até mesmo a presença do morto.

O tempo passou, mas ninguém apareceu para realizar o sepultamento. O caixão permaneceu ali, abandonado, até que a maré subiu e as águas  levaram o caixão. Desde então, o “Matador” passou a ser chamado de “Martador” – um trocadilho irônico nascido do destino inusitado de seu corpo, levado pelo mar.

Ao ouvir essa história, fico me perguntando, caro leitor, quem teria sido esse homem que, mesmo na morte, causava tanto temor a ponto de ninguém se atrever a enterrá-lo.

Não sabemos se o relato é verdadeiro ou se se trata apenas de uma lenda local. Contudo, se um dia você passar por Ararapira, talvez seja prudente abaixar um pouco a cabeça. Afinal, vai que….

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Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.