“Vai passar”. Este foi o ano (acredito) que mais ouvimos essa frase. Duas palavras carregadas de esperança na intenção de sugerir algum alívio em um período pesadíssimo.
Trata-se de uma locução verbal, muitas vezes, pronunciada por pessoas que querem demonstrar uma boa intenção.
No caso de você estar com o coração despedaçado porque aquele malandro do ex-namorado, por quem ainda nutre um amor não recíproco, arranjou outra. Vai passar.
Bateu com o cotovelo em alguma quina de porta e está sentindo uma dor insuportável? Vai passar.
IPTU está atrasado, precisa consertar o chuveiro e o dente começou a latejar? Tudo vai passar.
O vizinho do andar de cima resolveu iniciar uma obra e, desde então, você não sabe mais o que significa silêncio? Vai passar.
Férias batendo à porta com trinta dias sorrindo para você, quando poderá, finalmente, preenchê-los como bem entender? Que maravilha! Só que também vão passar.
Quinze dias com sol escaldante e sem cair uma gota d’água do céu? Vão passar.
Amanheceu chovendo a cântaros? Vai passar.
Vírus que ceifa milhares de vidas e bagunça o mundo todo. Vai passar.
“Vai passar” é aquela frase dita para amenizar um incômodo. Não sei se, realmente, serve para alguma coisa. Mas cabe para preencher um silêncio embaraçoso, para tentar oferecer um alento em um período de desassossego ou em uma aflição. Dessa forma, acabamos nos agarrando a ela como forma de aplacar aquilo que nos aflige e golpeia.
Não deixa de ser um atenuante. Mas quer saber? Passa, sim. Até pode demorar mais do que gostaríamos ou fugir da nossa expectativa. Geralmente, porque a nossa ansiedade costuma querer atropelar o tempo, e relutamos em compreender que para tudo há uma razão de ser.
Passa porque a vida é dinâmica demais para permitir o igual, o permanente, o “pra sempre”. Em algum momento, o prazo de validade esgota e os bons e os maus momentos dão o seu adeus.
Portanto, acalme essa alma aflita. Seja lá o que esteja vivendo, vai passar.
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