Por: Kátia Muniz
“Solicitarei uma ressonância magnética”, diz o médico com a naturalidade de quem pede um lanche nessas famosas redes de fast-food. Em seguida, entregou-me a guia preenchida para a execução indicada, despediu-se com um “até mais ver” e ignorou, por completo, o meu semblante assustado devido à futura realização do meu primeiro exame de diagnóstico por imagem.
E foi com essa mesma expressão facial que sentei, dias após, na sala de espera da clínica em que faria o procedimento.
Tentei me distrair navegando, aleatoriamente, pelas redes sociais, mas fui interrompida por uma atendente que me estendeu um questionário para assinalar as alternativas de sim ou não com um “x”.
Na sequência, já livre das tais perguntas, ouvi meu nome ecoar em um corredor e me alcançar na cadeira em que me encontrava já, adequadamente, vestida para a ocasião com aquelas roupas padronizadas, cabelo preso dentro de uma touquinha – o que me fazia parecer com uma rolha de champanhe – e, nos pés, as proteções feitas com o mesmo material da touca.
Dessa forma, adentrei o local da avaliação e recebi as instruções: “Pode deitar aqui. Não se mexa para não alterar o resultado. Segure esse aparelho. Se precisar de algo, é só apertá-lo. Pode relaxar o corpo”.
Relaxar?
Relaxaria se estivesse numa praia paradisíaca, flanando por Paris, visitando museus ou assistindo a um show. Ali, estática, sendo transportada para dentro daquela cápsula, relaxar era um verbo que não fazia o menor sentido.
Antes de ser introduzida na máquina, indaguei: “Quanto tempo vai demorar?”
Vinte minutos foi a resposta. Lá fui eu vivenciar os vinte minutos mais longos da minha existência.
Uma vez instalada no aparelho, tratei de manter os olhos fechados e pensar em situações agradáveis, porém fui acometida por uma vontade imensa de me coçar. Não bastasse, a coceira foi se espalhando pelo corpo: dedão do pé, pernas, barriga, braços, pescoço, costas… e eu ali, inerte, tentando driblar meu cérebro para não prestar atenção na comichão e, sim, direcioná-lo para imaginar momentos aconchegantes.
De repente, começou um barulho. Os protetores auriculares não davam conta de abafar, por completo, o som que surgiu. Daí em diante, tive a nítida sensação de estar dentro de uma máquina de lavar roupa em plena atividade.
Quantas décadas levaram os tais vinte minutos?
Senti a maca deslizar. Agora, devo ir para a fase de centrifugação, pensei. Mas, quando percebi, estava fora do tubo. Havia terminado.
Por fim, tempos depois, entregaram-me o laudo. Investigaram-me por dentro, diagnóstico completo em termos técnicos, todavia a alta resolução não detectou todo o processo de desenvolvimento desta crônica elaborada, mentalmente, no exato momento em que realizava a ressonância.
Aleluia! Ainda bem.