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Crônicas

“Que trazes pra mim?”

Publicado

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Por: Kátia Muniz

Na década de 70, a tradição de ganhar chocolates na Páscoa era bem diferente. Não existia grande oferta, muito menos variedade do produto e de embalagens em relação ao que há hoje no comércio.

Naquela época, também não havia exagero. A criançada ganhava miniaturas de ovos de chocolate ou doces no formato de coelhinhos. 

As mães costumavam comprá-los com antecedência, providencialmente, para não correr o risco de faltar. O próximo passo era armazenar na geladeira para não derreter.  

As crianças esperavam, pacientemente, chegar o domingo de Páscoa para desembrulhar as gostosuras. Enquanto isso, passavam a semana salivando. Cada vez que precisavam abrir o refrigerador era uma tortura e, mesmo assim, sabiam aguardar.

Aquela ocasião acabava por se tornar a mais longa da inocente infância. Uma semana se transformava numa eternidade, não só para as crianças como também para as mães, que precisavam responder constantemente:

– Mãe, quantos dias faltam para o domingo? 

– Cinco.

– Ainda!

O calendário não tinha pressa, os segundos se arrastavam e a vontade de devorar as tais guloseimas apenas aumentava. 

Somente na data da Páscoa é que as crianças se deleitavam. No restante do ano, até poderiam ganhar um ou outro bombom, mas não com frequência. Por isso, o momento tão aguardado tinha todo um encantamento. E isso chegava ao seu ápice quando, na respectiva data, era necessário procurar a cesta de ovos escondida, às vezes até com as marcas das patinhas do referido bichinho pela casa. 

Na contemporaneidade, há uma urgência na linha de produção, tanto que no período de carnaval já é possível encontrar os produtos em exposição nos diversos pontos de venda.

Chega a ser bonito de ver quando as crianças se põem de boca aberta, pescoço esticado, com os olhinhos hipnotizados a contemplar o parreiral de ovos de chocolate que, por exemplo, proliferam nos supermercados. 

Como a quantidade é enorme, fica difícil resistir. Assim, a garotinha que, duas vezes por semana, acompanha a mãe nas compras, acaba ganhando um pequeno ovo por vez. Imediatamente, abre e o devora, passando o restante do tempo com o rosto lambuzado denunciando a façanha.

Em uma outra situação, mais recente, o menino não gasta nem as palavras, bastando apontar para o chocolate escolhido, e, rapidamente, a gostosura salta para suas mãos e, na sequência, para a boca.

Diante da facilidade na oferta, as crianças ganham chocolates dos pais, tios, padrinhos, avós, amigos e de quem mais se propuser a agradá-las. Da mesma forma, também recebem os doces em qualquer dia da semana, tanto faz se são oito horas da manhã ou se ultrapassam vinte e duas horas. 

Sem ter a sensação da espera e sem se importar com a data programada para a comilança, elas não criam tanta expectativa pelo chocolate em si, pois esse não lhes é negado o ano inteiro. O ponto alto fica a cargo do objeto que acompanha o ovo. Nada é mais emocionante do que quebrar o chocolate ao meio e ver saltar dele uns bichinhos de pelúcia ou uns brinquedinhos esquisitos.

Portanto, a sedução está no recheio, no acompanhamento, ou seja, no que está oculto. É ali que a curiosidade e o desejo fazem morada.

Apesar de saborearem essas guloseimas o ano todo, a diferença fica por conta de que, nos bombons e nas barras de chocolate que fazem parte da infância, não há os tais brinquedos escondidos. 

Resta-nos saber até quando.

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