“Não é o tempo que cura. Nós é que mudamos o foco”. Não lembro quando escrevi essa frase, mas deve ter chegado a mim num “insight” enquanto eu fazia algo banal do dia a dia. Geralmente é assim que acontece.
Lembrei dela porque nesta semana recebi uma mensagem em forma de desabafo. Alguém sofria por um amor que já havia partido, dado o adeus.
É impressionante! A dor de amor repete seu script. Costuma funcionar de maneira mais ou menos igual para todos, apesar de muita gente tentar fingir que está tudo bem, o que é pura perda de tempo. Não há disfarces para um coração despedaçado. As emoções nos escapam, não controlamos nada direito, somos um trem descarrilado.
Eu poderia ter dito “vai passar” ou “daqui um tempo tudo se ajeita”, o que não deixa de ser verdade. Mas remei contra a maré e disse para a pessoa “sofrer” mesmo.
Sofra tudo que tiver para sofrer. Quer rever as fotos? Reveja. Quer reler 200 vezes as mensagens que vocês trocaram? Releia. Quer repetir a história da sua dor para sua melhor amiga todos os “santos” dias como se estivesse fazendo isso pela primeira vez? Repita. Melhor amiga não está nesse posto por acaso. Vai tomar um porre? Não aconselho. No dia seguinte, você terá dois problemas: a dor do amor continuará tinindo como nunca e, de quebra, uma ressaca.
Dói quando o amor se vai. Tudo parece vivo demais. Tudo lateja, cutuca, perfura. É um incômodo. Quem dera caíssemos na cama e acordássemos anos depois com tudo resolvido.
Fatores externos não colaboram. Você está no mercado, quando percebe a música tocando. É justamente a que representava o amor de vocês. Quantas músicas há na face da Terra? Por que raios tem que tocar justamente essa?
Lá está você na sala de espera de um consultório médico. A pessoa a ser atendida antes tem o nome anunciado na voz aveludada da secretária. Quais são as chances de uma pessoa com o mesmo nome de quem você quer justamente esquecer estar dividindo o sofá de uma sala de espera?
Então, você muda o foco. Foi assim que essa crônica começou. Vá jogar tênis, fazer natação, correr uma maratona, justo você que acha cem metros uma distância considerável! Vá fazer uma viagem, cortar o cabelo, gastar menos tempo nas redes sociais. Faça qualquer coisa, porque é para frente que se anda.
A dor? Também vai junto nos primeiros dias, mas depois, bem depois há de dar uma trégua e promover um respiro.
Tudo que foi vivido de maneira intensa não se esgota e não se extermina. Permanece conosco, não mais como forma de dor, mas como lembranças.