Por: Kátia Muniz
Querido Papai Noel, não há urgência em ler esta carta. Sou uma adulta com resquícios de criança, ainda sobrou algo aqui dentro que fiz questão de preservar em meio a tanto caos, tantas regras, responsabilidades, tantos anseios e a tantas paranoias da vida adulta.
Portanto, pode deixar minha carta por último. Saberei esperar. A prioridade sempre será delas “as crianças”.
Fico, aqui, imaginando o que elas vão pedir este ano. É possível que entre as solicitações de praxe, como: brinquedos, emprego para o papai ou a mamãe, celular, bicicleta, apareça também o pedido de trazer entes queridos de volta. A inocência é o lado mais terno e doce.
Foi um ano de perdas, você bem sabe. Um verdadeiro teste para nossa sanidade mental que, de algum modo, foi afetada. Podemos até disfarçar mantendo atitudes e ações coerentes, mas dentro de nós algo grita e clama por socorro.
Papai Noel, o verbo “reinventar” foi muito falado e colocado em prática também. Quem estava deitado em berço esplêndido na zona de conforto foi arrancado a fórceps. Mexa-se! Vire-se! Faça de outra forma! Crie! Realize! A vida despejou verbos no afirmativo na mesma proporção em que entregou toneladas de insegurança, medo e incredibilidade.
E, em meio a tanta fragilidade, fomos mostrando nossa capacidade de rever conceitos, liquidarmos pensamentos enraizados e posturas ultrapassadas.
Já ia esquecendo de mencionar: O ano também foi marcado por lives, reuniões virtuais, home-office e comemorações de aniversários por chamada de vídeo. Nossos rostos nunca foram tão enquadrados em telas. Tivemos que aprender na marra outras formas de fazer o que já fazíamos.
Meu bom velhinho, 2020 foi uma baita prova de resistência. Mas estamos cansados, exaustos, seguindo com fiapos de força que extraímos de algum lugar dentro de nós.
Nunca desejamos tanto ver o final de um ano. Ansiamos não somente pular as sete ondas, mas pular esta etapa, esta fase, este momento. Arrancar logo a última folha do calendário. Queimar a agenda física de tantos compromissos cancelados e saltar para o ano novo agarrados à esperança de dias melhores.
Outro dia, deparei-me com uma piada nas redes sociais dizendo que você não viria este ano porque faz parte do grupo de risco.
Admiro, profundamente, essa capacidade criativa que as pessoas têm de extrair humor das situações incômodas. O sorriso é um jeito de renovar as energias.
Papai Noel, coloque a máscara no rosto, use álcool em gel, suba no trenó e venha! Aguardaremos ansiosos pela sua magia em um ano tão marcado pela dor.
O meu pedido não poderia ser outro: Saúde a todos nós! Feliz Natal!
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