conecte-se conosco

Crônicas

Voa, “passarinha”!

Sou apaixonada por filmes, mas reluto em ver séries.

Publicado

em

Voa, “passarinha”!

Sou apaixonada por filmes, mas reluto em ver séries. Explico: filmes contam a história proposta em um curto espaço de tempo, enquanto as séries levam vários episódios, incluindo aí as temporadas.  

Não tenho a disciplina de assistir aos 50 minutos de um episódio, desligar o aparelho e ir cuidar da vida. Quero o desenrolar da trama. Sofro de urgências.

Volta e meia me rendo. Ainda assim minha lista é tão curta que não chega a preencher os dedos das duas mãos: “You”; “O Mecanismo”; “Bates Motel”; “Anne With an E”; “Please Like Me” e “Bom Dia, Verônica”. 

“Bom dia, Verônica” está no catálogo da Netflix e conta com oito episódios eletrizantes do começo ao fim. É sentar no sofá e não sair até que subam os créditos finais da primeira temporada. E, aqui, não há nenhum exagero. O ritmo é intenso e os episódios costumam terminar com cenas bem cortadas e com ganchos propositais para fazer o espectador pular para o próximo e mais outro, a fim de buscar o desfecho do thriller policial.

Não há respiro em “Bom Dia, Verônica”. As atuações são impecáveis e há cenas de prender o fôlego. Mesmo com esse quadro de tensão, não dá vontade de apertar a tecla pause, muito menos a de stop. Seguimos entregues e absorvidos por uma narrativa ágil e certeira.

A série é um suspense que mantém a frequência cardíaca nas alturas e gira os holofotes para um tema, extremamente, atual que é o abuso psicológico e físico contra as mulheres. 

O núcleo das personagens Janete e Brandão nos apresenta o cardápio indigesto das sensações vividas por ela dentro do relacionamento abusivo: o medo, a voz trêmula, o pavor sempre estampado nos olhos arregalados, a insegurança, o “pisar em ovos”, que nada mais é do que medir as ações com receio do que elas possam desencadear no abusador, as agressões físicas, as humilhações, a culpa, a submissão, a inércia, a perda da identidade, a manipulação e o controle exercidos pelo marido.

Para ela, a própria casa é uma prisão. E a metáfora do abusador chamando-a de “passarinha”, remete-se ao fato dele criar vários pássaros em gaiolas. Ou seja, ela é apenas mais um. 

No final de cada episódio, aparece na tela, o endereço do site www.wannatalkaboutit.com que traz serviços de apoio e ajuda para quem sofre algum abuso. A produção cumpre o papel social, serve de alerta e põe o dedo na ferida mostrando uma realidade dura, cruel e perversa em que muitas mulheres se submetem diariamente por conta da violência estrutural machista. 

A sequência do ciclo de abuso faz com que as vítimas se encontrem fragilizadas, não reunindo forças nem muito menos condições psicológicas para voar de suas gaiolas, mesmo que essas estejam com a portinhola aberta.

Por: Kátia Muniz

Leia também: Ao casal da praça

Continuar lendo
Publicidade










Em alta

plugins premium WordPress