Por: Kátia Muniz
Era março de 2020 quando a pandemia se instalou e virou nossa vida de cabeça para baixo. Litros e mais litros de álcool em gel foram incorporados ao dia a dia, assim como a rotina de desinfetar tudo, lavar as mãos com frequência e, aos que puderam permanecer em casa, tanto melhor. Ao sair, uso obrigatório de máscara para todos. Dessa maneira, as regras foram estabelecidas, mas o medo e o pânico não deram trégua.
Lembro que, passado um tempo, alguém me perguntou se o período turbulento havia afetado a minha escrita. Respondi que não.
Verdade. Produzi muito. É fato que virei monotemática na coluna de jornal, mas não via o menor cabimento em falar sobre a natureza, as relações amorosas e outros temas que sempre retratei.
Então, a Terra girou. O ano de 2020 deu o seu adeus e o de 2021 nasceu com a esperança da vacina. Tudo estava se encaminhando bem. As pessoas foram aprendendo a viver de um outro modo. E daí… tcharam… eu travei.
O meu caos não aconteceu em 2020, e sim no ano seguinte. Paralisei. Não escrevia uma linha sequer, quem dera um parágrafo inteiro.
Em julho, por conta do aniversário do município onde moro, meu amigo colunista me enviou uma mensagem pedindo uma frase alusiva à cidade para ilustrar o seu espaço no jornal. Respondi a ele que estava passando por um bloqueio criativo que já se estendia por meses e, em virtude disso, não conseguiria atendê-lo.
Tanto que, para honrar os prazos da minha coluna de crônicas, usei todos os textos que tinha como reserva.
Como tudo na vida tem prazo de validade, meu maior bloqueio, desde que comecei a escrever, também chegou ao fim. Início de 2022, destravei. Soltei os verbos. Inaugurei as linhas. Costurei os parágrafos. A mente voltou a criar. Aleluia!Tudo isso para refletir que, muitas vezes, não é no olho do furacão que nosso caos se manifesta. Pode haver um delay. E, aqui, nem me refiro aos dissabores causados pela pandemia, mas a um sentido mais amplo em relação a tudo que nos afeta internamente no dia a dia. Talvez algumas pessoas, mesmo que, inconscientemente, mantenham um estoque de energia ou a saúde mental mais estabilizada, que faz com que elas consigam seguir em frente e aguentem melhor os enfrentamentos diários sem ruir logo de início. Mas chega uma hora que a energia também se esgota e a saúde mental pode vir a desestabilizar. Reconhecer as nossas fragilidades, respeitar o nosso tempo e manter o recolhimento até que tudo volte à normalidade, não é nenhum demérito. Muito pelo contrário, é sinal de sabedoria.