Por: Kátia Muniz
Vocês dois discutem. Palavras jorram aleatoriamente, ofensas, más interpretações, acusações, mágoas, tudo vem se apresentar no palco da discórdia.
Nesse momento, não raciocinam direito e não medem as consequências dos atos. Prevalece a atuação como num ringue, disputando para ver quem tem razão. Mesmo com uma das partes dizendo que está tudo acabado, nem um dos dois se atenta para o que está por vir. Seguem anestesiados.
Ele talvez pense: “Ela vai embora? Que bom! Enfim, vou me libertar dessa mulher chata que adora pegar no meu pé. Estarei livre para curtir a solteirice da melhor maneira possível”!
Ela talvez pense: “Ele vai embora? Que ótimo! Agora, posso tocar a minha vida em paz. Viajar, sair com as amigas, sem precisar ficar dando satisfação de cada minuto do meu dia”.
Paz costuma ser tudo que não se tem depois de um rompimento. Sabe por quê? Porque a dor nunca aparece na hora, ela só chega no dia seguinte. Geralmente, depois de uma noite mal dormida ou em claro, em que os primeiros raios da manhã fazem perceber uma dor de cabeça insuportável, seguida da sensação de que o corpo foi atropelado por um trator.
No dia seguinte, o arrependimento se instala, os pensamentos vão se organizando de forma lenta, e os dois se dão conta da bobagem que fizeram. A memória trata de reproduzir a cena do desentendimento exaustivamente, enquanto a dor lateja, perfura e maltrata os corações combalidos.
No dia seguinte, é possível enxergar com mais clareza a profusão de erros, os impulsos que não foram controlados e os inúmeros comportamentos um tanto imaturos.
Adotam, como estratégia, ocupar o dia com alguns afazeres, sempre fazendo de conta que tudo está em perfeita harmonia e sob controle. No mesmo instante, entregam sorrisos nada sinceros aos que cruzam seus caminhos.
No dia seguinte, o telefone não toca, a mensagem de um bom-dia não chega, a mesa é colocada para uma pessoa, um não sabe como o outro está passando e o silêncio cumpre o papel de torturador.
Até que a noite se apresenta e chega o momento de encarar o quarto, a cama que aparenta estar com o dobro de tamanho e a solidão de um vazio que nada parece preencher.
Acusa-se o golpe.
O dia seguinte é a prova real de que tudo poderia ter sido diferente.