Crônicas

Fiascos aéreos

Por: Kátia Muniz Alguns momentos me deixam eufórica. Viajar de avião é um deles. Sou fã de aeroportos e aeronaves e não faço parte da turma que precisa tomar remédio ...

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Por: Kátia Muniz

Alguns momentos me deixam eufórica. Viajar de avião é um deles. Sou fã de aeroportos e aeronaves e não faço parte da turma que precisa tomar remédio para dormir ou acalmar por conta do medo.

Mas essa euforia toda não se manifesta se a passagem for comprada para um horário que me obrigue a acordar cedo demais. Posso até estar de pé no horário exigido, mas não significa que esteja realmente acordada. Minhas conexões cerebrais levam quase meia manhã para se conectarem; portanto, exigir de mim decisões às 5 horas da manhã é chover no molhado. 

Cometo gafes em série e preciso urgentemente de um adulto em funcionamento das faculdades mentais ao meu lado para corrigir a sucessão de erros que executo. 

Não faz muito tempo que precisei viajar, e o voo era cedo demais. Não me pergunte como cheguei ao aeroporto porque seria forçar a amizade. 

Parada diante de uma vitrine com comidinhas para o desjejum matinal, tive a impressão de ter levado uma década para dizer que queria apenas uma xícara de café. Quando a atendente perguntou: “Com leite ou sem?” Lá se foi mais uma década. 

O próximo fiasco se deu quando o funcionário da companhia aérea levantou um aparelhinho para fazer a leitura do código do bilhete e eu estiquei o meu pulso achando que ele ia fazer a medição da temperatura. Então, o profissional disse: “O bilhete, senhora”. Não riu da minha cara na hora, suponho que a criatura já tenha presenciado muitos distraídos e condicionados ao novo sistema de protocolos para a pandemia. Mas o fato é que eu estava dormindo em pé. Nem um balde de café seria capaz de me acordar.

Dentro da aeronave, aguardava com satisfação a hora da decolagem. Pra mim, o ápice. Eis que lá pelas tantas, o avião entrou numa área de turbulência e sacudiu tanto que o café no meu estômago já dizia a que veio. Comecei a sentir tontura e passar mal. Tudo girava ao meu redor, mas me mantive quieta e afivelada ao cinto. 

Consegui ouvir o piloto dizer: “Tripulação, preparar para o pouso!” Senti uma felicidade que se desfez quando percebi que de tão tonta não conseguia me mexer. A comissária me trouxe água e quando reuni forças para encarar aquela escada íngreme que acoplam à aeronave, levantei-me. Na sequência, enganchei a alça da minha bolsa no corrimão da escada e precisei de ajuda de um funcionário da companhia para retirá-la. Que vontade de ser um avestruz e enfiar a cara em um buraco! Mas o pior ainda estava por vir. Qual era a minha mala naquela esteira? Sentindo ainda tudo girando ao meu redor, agora eu tinha, literalmente, uma esteira girando na minha frente, desfilando uma profusão de malas semelhantes.  

Cheguei ao endereço de destino e fui recebida com alegria contagiante pelos anfitriões que anunciaram, a plenos pulmões, que o cardápio para o almoço era macarrão à carbonara. Eu amo, mas aquele dia eu só queria uma coisa: dormir.

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.