Crônicas

A dor do escritor

Dos dissabores da vida, ninguém escapa. No entanto, cada pessoa possui um jeito muito particular de lidar quando tudo ao redor se desalinha e a calmaria dos dias é substituída ...

Kátia Muniz

Kátia Muniz

Dos dissabores da vida, ninguém escapa. No entanto, cada pessoa possui um jeito muito particular de lidar quando tudo ao redor se desalinha e a calmaria dos dias é substituída por um período turbulento. O que ainda, dependendo da gravidade da situação, pode acompanhar instabilidade emocional, sofrimento e dor.

Para quem tem o ofício de escrever e enfrenta a tal fase crítica, é muito provável que determinadas situações possam acontecer.

Uma delas é usar, justamente, o poder das palavras para promover a catarse, esvaziar a alma, soltar o verbo, extravasar o sentimento, sem que para isso haja algum tipo de receio ou desconforto, muito pelo contrário, o nervo exposto nas linhas aparece por intermédio de versos ou em prosa, tornando-se o meio de expurgar o incômodo e, por consequência disso, propicia o bem-estar do indivíduo. A calma que surge depois do gozo ininterrupto das letras, em virtude do movimento confessional, ajuda na organização do que fere e machuca. 

A outra, sem sombra de dúvidas, é pior: o bloqueio criativo. É quando se percebe o processo de escrita paralisado, seja diante de uma coluna no jornal, que precisa ser preenchida semanalmente, ou um livro com prazo de entrega estipulado pela editora.

A ausência da criatividade se manifesta por conta de alguma desordem, proveniente de circunstâncias oriundas daquilo que acontece no cotidiano e que, de algum modo, o escritor ainda não conseguiu superar. De repente, os vocábulos desaparecem sem deixar evidências. Não há frases, ideias, parágrafos, vírgulas, pontos-finais, travessões, aspas, interrogações, exclamações… Nada. Tudo se mantém recluso, sem revelar quaisquer indícios da descontinuidade desse momento.  

Ademais, a dor interna não costuma obedecer ao ritmo da vida lá fora, pois ela segue pulsando, exigindo decisões, respostas, atitudes e escolhas. Tudo isso acaba entrando em conflito. De um lado, a apatia; do outro, a inquietude. 

No entanto, observe, caro leitor, é muito fácil notar a dor que acomete um escritor. Ele pode sim escrever a respeito, muitas vezes, usando como recurso dar voz a um personagem ou de maneira explícita, sem nenhum pudor. Contudo, é possível que silencie. E, mesmo assim, será um silêncio que fala. 

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A dor do escritor

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.