Por Alexandre Camargo de Sant’Ana
Essa pequena discussão sobre as tentativas de normatização das mulheres no projeto moderno em Paranaguá, mostra ser possível e interessante uma análise mais profunda da diversidade dos comportamentos e de sua relação com a padronização que se tentava de cima para baixo. Paranaguá buscava deixar suas características rurais e imperiais para trás, rumando em direção à modernização e não apenas a cidade deveria ser modificada, mas também seus moradores.
A religiosidade possuía influência importante na cidade, contando com quatro igrejas e intensa atividade religiosa. Sendo assim, a religião predominava no discurso normativo e moralizante e esta relação de forças entre as novas e modernas normas burguesas contra as antigas e indesejáveis práticas sociais acontecia com o discurso religioso como pano de fundo. Tal transformação era fundamentada tanto na moral religiosa quanto em argumentos científicos que tentavam acabar com hábitos contrários à saúde. No meio deste contexto, as pequenas histórias de algumas mulheres desconhecidas, levando a vida como podiam, nos aproximam da verdadeira dinâmica social de Paranaguá. São pessoas de carne e osso movimentando-se por baixo do projeto normatizador e sobrevivendo como era possível, mostrando uma cidade muito mais real do que a idealizada.
Para terminar, conheçamos a mulher de nome Auta, amasiada de Antonio e mãe da menina Oulindinna de dois anos de idade. O casal morava em uma “casinha” no Rocio Grande e brigava muito. Certo dia, após uma destas brigas, o homem saiu trabalhar no “Porto D. Pedro” e voltou apenas no final da tarde, encontrando sua “choupana” em cinzas. Pelos vizinhos ficou sabendo que fora sua amasiada a culpada pelo incêndio. Não desejando mais morar com ele, Auta botou fogo na casa e partiu com Oulindinna, decidida a nunca mais retornar àquela vida.