Em 1952, o jornal “A Divulgação” republicou a crônica de Nascimento Junior sobre a antiga Cruz do Pica-Pau que existia na região da Praça João Gualberto. Retirada em 1904, quando já era considerada centenária (segundo uma publicação daquele ano), a história da cruz tornou-se lenda, surgindo versões divergentes. Para Nascimento Junior, um escravo assassinou um carrasco naquele local em 1800 e por conta disso os moradores ergueram a cruz que virou um ponto de peregrinação popular muito importante na cidade. A versão de Nascimento já havia aparecido em jornal de 1932 e sua republicação 20 anos depois evidencia ter sido uma história bem aceita durante aquela época. Sabemos que após a retirada de seu local de origem, a cruz foi colocada no Campo Grande, mas a transferência destruiu a peregrinação e ela acabou largada em algum depósito da prefeitura.
No ano da republicação da crônica de Nascimento Junior, o mesmo jornal publicou um conto de Osmann de Oliveira sobre a primeira poetisa do Paraná – cujos restos mortais já estavam abandonados na Praça Fernando Amaro. Assim como a Cruz do Pica-Pau, Júlia da Costa também teve sua história substituída por um mito. No conto de Osmann, encontramos uma versão deturpada de sua vida, na qual o marido teria mantido uma concubina no andar térreo do sobrado enquanto Júlia vivia praticamente enclausurada no andar de cima.
Apesar de rica culturalmente, havia muita desigualdade em Paranaguá: de um lado, uma elite cafeeira lucrando cada vez mais; do outro, uma cidade cheia de carestias. Uma das principais causas das reclamações era a falta de energia elétrica. Com a luta política acontecendo em torno deste tema, surgiu uma ferrenha oposição formada por trabalhadores e estudantes apoiando políticos ditos mais progressistas.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana