Como comentei anteriormente, havia um movimento de modernização em Paranaguá tentando padronizar os comportamentos sociais no início do século XX. Existiam leis, mas grande parte do trabalho ocorria a partir do convencimento, com os formadores de opinião criticando hábitos indesejados e elogiando as atitudes vistas como saudáveis e moralmente aceitas.
Vimos como esses discursos agiam sobre os homens e meninos no futebol. O esporte era chamado de moderno e através dele seria (teoricamente) possível exercitar tanto o corpo quanto a mente. Por exigir uma conduta honrada e leal, o futebol condicionaria seus jogadores a se portarem de maneira adequada às regras do jogo. Com os meninos seria ainda mais eficiente, pois o condicionamento começaria cedo, antes que fossem vítimas de vícios como jogatina ou bebida alcóolica. Quando a prefeitura tentava regular o carnaval, os argumentos morais eram praticamente os mesmo e agiam sobre práticas masculinas como entrudo e os mascarados.
Os discursos normativos sobre os homens e meninos eram sempre presentes na mídia local, que apresentava o consumo de bebidas, jogatina e confusão como atitudes masculinas que precisavam ser extintas, nem que a polícia fosse necessária – até mesmo contra crianças! Provavelmente encontramos mais reclamações a respeito dos hábitos dos homens e meninos e menos sobre as mulheres porque elas deveriam ficar mais tempo em casa e não possuíam a mesma liberdade, inclusive na infância. Mas elas não ficaram fora da ação dos formadores de opinião e nem mesmo das autoridades, afinal, muitas não correspondiam ao padrão social desejado pelos discursos normativos. Nessa série analisaremos como esse projeto de normatização deixava bem definido qual era o tipo correto de mulher e qual não era. Elas deveriam ser boas filhas e irmãs, ótimas esposas e excelentes mães.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana