Desde os primeiros textos desta série sobre o surgimento do futebol em Paranaguá – no início da segunda década do século XX – tento mostrar como o esporte vinha ao encontro do ideal de modernidade reinante entre a elite política parnanguara, que buscava transformar a cidade e deixar as características rurais para trás. A partir da prática do esporte, seria possível auxiliar na educação dos meninos e alterar para melhor as atitudes dos homens, pois o futebol exigia trabalho em equipe, amizade, respeito, inteligência, honra e um ótimo condicionamento físico (tudo o que era necessário para a formação de bons cidadãos).
No contexto inicial do futebol em Paranaguá, clubes e jornais mantinham o mesmo discurso normativo e defendiam acima de tudo a ordem e a paz, dentro e fora do campo. Se alguém não respeitasse este ideal, as críticas apareciam rapidamente, inclusive levando diretorias e jogadores se retratarem em certas ocasiões – tudo para deixar claro que se ocorreram desvios comportamentais, não passavam de casos isolados e seriam corrigidos, afinal, não era esse o nobre espírito do futebol.
Jogadores adultos e infantis, torcedores e torcedoras, todos possuíam um papel predeterminado que deveriam seguir para honrar o nome do clube. Por conta disso, nada incomodou mais do que o povo trocando os campos pelas ruas. Assim como aconteceu em Curitiba, o futebol formalizado não foi o único praticado em Paranaguá e a prática extrapolou o esporte oficial, crescendo também fora das associações esportivas. Diferente dos treinos e jogos dos clubes (com locais e datas específicos), o futebol de rua possuía suas próprias regras e lógica de tempo e espaço, batendo de frente com a idealização do esporte e desafiando a ordem e os bons costumes da sociedade.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana
