A questão do futebol evidencia o choque entre um mundo velho – que precisava ser deixado para trás – e o novo mundo – projetado pela elite dominante para modernizar Paranaguá. Partindo da análise do esporte na cidade, percebemos como funcionavam os discursos normativos, buscando alterar os hábitos dos cidadãos e impondo um modelo de cima para baixo, dentro do qual, todos deveriam se encaixar. Caso resistissem, havia a legislação e a polícia para reintegrar os indivíduos à ordem. Estudar o futebol permite visualizar parte do sistema de condicionamento social, entretanto, unindo esta análise à questão da água encanada e às mudanças no carnaval, podemos ampliar ainda mais a observação e o entendimento da chegada da modernidade na cidade de Paranaguá.
Mesmo tratando-se de fenômenos aparentemente sem nenhuma relação, todos os três expõem as ações das autoridades e dos formadores de opinião na tentativa de alterarem Paranaguá. Almejando uma sociedade mais limpa e organizada (seguindo o modelo europeu de cidade), buscava-se manter os cidadãos na linha através de convencimento e também da repressão policial. A água encanada, o carnaval e o futebol mostram-se conectados, pois fazem parte daquele mesmo processo de transformação social, trazendo à tona uma estratégia em comum de normatização utilizada pelas elites locais.
Existia um projeto de sociedade e foram criadas normas e regulamentos para se alcançar tal objetivo. Analisando estes três eventos de forma conjunta, ficam mais claros os conceitos de normal e anormal que direcionavam o movimento das autoridades e forneciam argumentos para as críticas dos formadores de opinião. Havia uma definição muito específica do tipo de cidadão desejado e indesejado, sendo que o primeiro ajudava e o segundo atrapalhava Paranaguá. No próximo tema da coluna, continuaremos buscando mais evidências destes mecanismos de normatização da população.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana