Aluísio de Abreu
Tivéssemos desejado um dia fulgurante, iluminado e belo com muito ouro e muito azul refletidos em águas tranquilas — para preencher as horas daquele domingo, gastas no aprazível passeio a Guaraqueçaba, e, certamente, não o teríamos tão pomposo, com um céu apoteoticamente deslumbrante, límpido e turquesado, com tantas flores silvestres ajardinando a costa.
Romário Martins, em uma de suas apreciadas crônicas paranistas, descreveu o “Maravalhas”, onde está localizado o estaleiro do venerando paranaense Alípio dos Santos, como sendo admirável «ninho de barcos».
Foi desse quedo e mágico recanto, onde madeiras litorâneas se transformam em quilhas e cavernas, depois em barcos elegantes e alígeros, que nesse dia santificado — de verdadeira glória de Deus! — deixamos o ltiberê, a convite do varão ilustre, abicando para o canal do Maneta, a caminho do outeiro pitoresco da baía das Laranjeiras, Guaraqueçaba, terra de Domingos Vergílio do Nascimento, poeta-soldado, que a cantou formosamente.
“Eu sou da terra dos lírios bravos,
Que pendem a haste por sobre o mar;
Por entre lírios vermelhos cravos,
Branco e vermelho… fico a cismar!
Fico a cismar nos lírios, nos cravos,
Que pendem a haste por sobre o mar”.
O “Rio do Pinto”, que dias antes víramos descer a mesma carreira, que levara à água outros barcos, como êle acinzentados e de estirpe nobre — andejos dos mares da Pátria — iniciou a viagem pelas sete horas da manhã, motores em ritmo, borrando o ar de fumo enegrecido e deixando atrás, a esteira revolta e transitória de sua inaugural passagem.
Transposta a Ponta da Cruz, quando nossos olhos ainda demoravam na elevação da Cotinga — a ilha berço de Paranaguá — já a das Cobras vinha alegrar o marinho panorama, encaixilhando sedutora paisagem.
E o “Rio do Pinto”, dócil ao manejo, guindava mansamente em direção às Peças, donde rumaria ao Pontal, flechando em reta para o Morato, até alcançar Guaraqueçaba — flor emurchecida das Laranjeiras, “ que pende a inste por sobre o mar”…