No início do século XX, o litoral paranaense era predominantemente rural e Paranaguá permanecia colonial, não passando de um insalubre aglomerado de pessoas, uma pequena cidade infestada de doenças. Inexistia o conceito de higiene urbana, não havia água potável encanada ou esgotos e o sistema de iluminação era precário. Como os navios cresciam e o Itiberê ficava cada vez mais sujo e lamacento, as principais atividades portuárias deslocaram-se rumo ao Rocio, iniciando o que viria a ser o Porto Dom Pedro II e gerando uma intensa ocupação naquela região.
Estes dois fatores – a insalubridade da cidade e a mudança gradual do porto – causaram um grave êxodo urbano, alertando as elites locais e gerando uma reação das autoridades municipais. Era necessário modernizar Paranaguá e evitar sua transformação em uma cidade fantasma. Deste modo, começou o moroso processo de modernização, fundamentado no conceito de salubridade urbana e combatendo as águas paradas, os miasmas, a sujeira e os hábitos insalubres. O tripé básico deste projeto era: iluminação de qualidade, para tirar a cidade das trevas; água potável encanada, para acabar com as águas paradas nas fontes; rede de esgotos para evitar doenças e a poluição do Itibere.
Em 1910, a usina hidroelétrica da Serra do Prata (talvez a primeira do Paraná) foi inaugurada. Quatro anos depois (1914), a cidade passou a contar oficialmente com a água potável encanada. No ano seguinte inauguraram a rede de esgotos. Todavia, além destes avanços na infraestrutura municipal, para Paranaguá realmente entrar na modernidade seria necessário alterar antigos hábitos dos cidadãos, não apenas no que dizia respeito à higiene, mas também relacionados a comportamentos diversos e vistos como entraves à modernização da cidade. Nos textos seguintes eu tratarei sobre esta tentativa de padronização social.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana