No início do século XX, os políticos locais introduziram Paranaguá na modernidade, impondo um projeto de sociedade fundamentado em dois discursos: o científico e o moral. Em nome da higiene, da saúde, da ordem e dos bons costumes, mudaram o meio urbano, alteraram leis e tentaram padronizar os hábitos dos cidadãos, definindo modelos de comportamento, criando regras, proibindo certas ações e incentivando outras.
A antiga lavanderia próxima à Estação, utilizada durante décadas “para a lavagem da sujeira de muita gente”, precisava sumir.
O aterro da Praça João Gualberto (atual região do terminal até a Biblioteca Leôncio Correa) destruiu “aquelle edifício feio”, “o velho pardieiro”. Segundo o jornal, “Foi tudo abaixo, e já se não permitte mais o ajuntamento das lavandeiras, nem as cordas e cercas cobertas de roupa lavada, de camisas brancas ao ar”. A derrubada gerou protestos das mulheres, que “botaram a boca no mundo inteiro”, mas o estender de roupas nos arredores da estação ofendia a “esthetica e moralidade”, ficando à mostra dos passageiros dos trens. Apesar de haver água em casa, a falta de esgoto complicava o lavar das roupas nas residências, pois não existia para onde a água correr, porém, “o progresso se faz […] sempre incommodando alguém […] um mal necessario, imprescindivel para o […] bem publico […] acima das conveniencias individuaes”.
Sete meses depois foi a vez do “velho chafariz” do mercado – desde 1850 prestando serviços à população. Na remodelação do local o equipamento foi destruído e apesar do ar de nostalgia do artigo do jornal, “tudo tem que avançar, tem que acompanhar a evolução mental e material do tempo”.
Era uma época de ignorância e baixa consciência histórica, então, autoridades e população não davam valor nenhum ao patrimônio.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana