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Centro de Letras

A Lenda

Publicado

em

Alexandre Camargo de Sant’Ana

Em 1904, a religiosidade já era secular (talvez bicentenária) em volta da Cruz do Pica-Pau. Deste modo, provavelmente ela tenha sido instalada perto do riacho “Ipyranga” – onde os populares coletavam água e as mulheres pobres e escravas lavavam as roupas – por volta do início do século XIX, talvez até mesmo antes. Segundo Nascimento Junior, ninguém foi preso pelo assassinato e o assunto cairia no esquecimento “se não fossem os simples ao anoitecer accender piedosamente velas e rezar o terço na Cruz do Picapau, n’um elance sublime de caridade”.  

Quando a cruz já era venerada há no mínimo 60 anos, construíram a Fonte Nova em 1860, aumentando ainda mais o fluxo popular na região da futura Praça João Gualberto. O culto plebeu “pela alma condenada d’aquelle que fôra o agente da última execução capital ocorrida em Paranaguá” continuou crescendo. De acordo com jornais de décadas diferentes, a velha cruz recebia muitas velas, coroas de flores, agradecimentos de promessas e até objetos estranhos, evidenciando a importância popular do local.

Infelizmente não localizei maiores detalhes sobre a retirada da Cruz do Pica-Pau em 1904 e não descobri se os parnanguaras reclamaram do sacrilégio naquele antigo local sagrado. De acordo com um jornal da época, ela iria para o Cemitério Municipal, mas um artigo de 1921 afirma que a cruz foi colocada no Campo Grande (um importante e movimentado logradouro da cidade). Todavia “não tinha aquella mesma apparencia recordativa do logar antigo”. Mais tarde, com embelezamento do Palmital, a cruz sumiu e caiu no esquecimento. Seria interessante pesquisar relação da Igreja Católica local com o culto popular do Pica-Pau e sua cruz erguida fora dos limites da pequena cidade, venerada há dezenas e dezenas de anos pelos mais pobres de Paranaguá.     

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