conecte-se conosco

Cidadania

Moradores no viaduto contam como é viver na rua

Falecimento dos pais, escolhas erradas e o vício do álcool resultaram em um caminho de difícil retorno

Publicado

em

O viaduto Vicente Elias foi uma das benfeitorias estruturais mais festejadas pelos moradores nas adjacências da PR-407, pois além de oferecer mais segurança ao trânsito dos veículos que seguem com destino às praias do litoral, ele serviu para dar fluidez e organização em uma das entradas de Paranaguá. Mas sua presença trouxe ainda alguns moradores, três exatamente, que ao não terem um local para dormir, pois vivem em situação de rua, escolheram a estrutura como casa para se abrigar do sol e da chuva e ali passar os dias.

Os moradores no viaduto, como já são conhecidos na região, são pessoas que possuem um passado semelhante, pois tiveram desentendimentos familiares que resultaram na decisão de sair de casa para tentar a sorte na rua, sendo essa, segundo eles, a única alternativa para uma vida em paz e melhor naquele momento. No entanto, os dias que se sucederam à decepção pelo fim do vínculo familiar foram também tempos de um contato mais próximo com o álcool, o qual, de acordo com Mauro Gonçalves Pereira, de 46 anos, fez piorar ainda mais o estágio de vida daquela época. “Até os meus 42 anos, ou seja, há quatro anos, eu vivia com meus pais no lado oeste da Ilha do Mel, mas meus pais vieram a falecer e o convívio com os meus irmãos em casa só piorou. Não vi, naquela época, outra saída a não ser viver na rua. Hoje vivo aqui, neste viaduto, vendo as pessoas passarem para um lado e para o outro e penso que poderia ser eu indo ali, com uma família”, lamentou.

O mais jovem da turma é José Joaquim Alves, de 34 anos (aparência de mais velho), não sabe ao certo o ano em que saiu de casa, mas lembra que o fato determinante para a mudança de vida foi a morte da mãe. “Ela era tudo para mim”, disse, deixando correr lágrimas pelo rosto. Ex-morador na Vila São Carlos, ele confessa ter sido usuário de drogas, porém, se diz uma pessoa do bem e que gostaria de viver uma vida completamente diferente da atual. “Ninguém precisa ter medo de mim ou de qualquer um aqui. Somos pessoas iguais a quaisquer outras, a diferença é que o nosso aspecto é sujo”, disse complementando com uma frase de rara inteligência. “Posso estar sujo por fora, mas por dentro sou uma pessoa limpa, mas tem muita gente por aí que se apresenta limpa por fora e muito suja por dentro”.

 


Mauro: “Hoje vivo aqui, neste viaduto, vendo as pessoas passarem para um lado e para o outro e penso que poderia ser eu indo ali”

 

Se a falta de um banho diário dificulta a aparência, eles dizem que gostam de manter limpo o local onde estão atualmente situados. “Fizemos a limpeza do nosso espaço, fazemos questão de não deixar nada sujo para ninguém falar que a culpa é nossa”, comentou Mauro, que lembrou ter tido o ofício de coletor de lixo nos tempos em que viveu na cidade de São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo.

Com relação ao contato com as pessoas que passam pela calçada existente na parte inferior do viaduto, Mauro fez um pedido. “Não tenham medo, só isso que peço”. A fala tem a ver com o temor de algumas pessoas que preferem percorrer outro caminho quando se deparam com os moradores no viaduto. Já o jovem José pede menos discriminação. “Fui pedir um prato de comida e me falaram para eu voltar para baixo do viaduto. Não preciso ser humilhado, é só dizer que não quer ou não tem o que dar”, alegou.

Por fim, os moradores Mauro e José disseram que se houvesse outra condição de vida, na qual eles pudessem trabalhar para ao menos conseguir se alimentar e viver de aluguel, isso os tornaria pessoas mais felizes. “Não estamos aqui porque queremos, mas sim porque não tivemos mais opções, mas não pedimos que tenham pena da gente, porém não queremos que nos vejam como lixo da sociedade”, resumiram os homens que têm o passado e o presente em comum.

Publicidade


Em alta