Hábitos Insalubres

 

Alexandre Camargo de Sant’Ana

A população também virou vilã da insalubridade. Em 1899, o relatório municipal exigia maior atenção à limpeza das latrinas e 8 anos depois, o jornal “O Espião” pedia mais privadas em nome da higiene. Já no início da segunda década do século XX, moradores ainda jogavam água suja e usada na rua, enquanto outros embrulhavam suas matérias fecais e simplesmente atiravam pela janela. Cascas de frutas, papel e outros restos, transformavam as ruas parnanguaras em depósitos de lixo e tal prática atingia crianças, adultos, ricos e pobres. A prefeitura colocou fiscalização para evitar o despejo de lixo durante a noite, mas o problema permanecia. Homens usavam as vias públicas como banheiro, urinando sem o menor pudor. Em 1914, o jornal local ainda denunciava esta prática e o mau cheiro resultante.

Muito lixo era atirado no Itiberê, hábito denunciado já no relatório de 1898. Vinte anos depois, encanamentos permaneciam despejando resíduos na maré. Em 1912, o jornal local elogiou a prefeitura pela reforma do cais na Rua da Praia, pois a vazante expunha detritos insalubres. Quando ela prolongou o cais atrás da alfândega velha, o jornal elogiou novamente, pois ali havia despejos imundos. As pessoas continuavam jogando sujeira no Itiberê ao cair da noite e um colunista do jornal implorava: Pelo menos façam isso diariamente e não esperem o lixo apodrecer!

Nas primeiras décadas da República, as autoridades municipais tentavam superar as características rurais de Paranaguá e buscavam a modernidade. O projeto higienista declarou guerra à insalubridade, organizando espaços públicos, comércio e a vida privada dos cidadãos. Em troca, o governo prometia uma cidade limpa e saudável, livre de doenças, com sistema de esgoto e água potável encanada. O chafariz trazido da França comemoraria esta modernização.