Espaço Público

 

Alexandre Camargo de Sant’Ana

O maior obstáculo ao projeto higienista burguês foi o Itiberê. Todavia, problematizando a poluição do rio, as autoridades encontraram diversas barreiras à salubridade urbana. Seria necessária uma ação estatal sobre os indivíduos e suas propriedades para alterar hábitos insalubres, porém, antes de intervirem na vida privada da população, precisavam dar o exemplo iniciando a higiene pelos locais públicos.

Na primeira década do século XX, um jornal reclamava que após a proibição de deixar os animais soltos, as ruas encheram de mato e uma jararaca fora encontrada. Em 1908, a Estação Ferroviária aparece descrita como desorganizada e suja, com um barril de água necessitando higiene. Defendendo a transferência da alfândega ao porto Dom Pedro II, um artigo de 1910 definiu o antigo colégio dos jesuítas como anti-higiênico e impróprio. O “Diário do Commercio” denunciava a sujeira do Fórum em 1912: “o lixo predomina por toda a parte”.

O comércio não escapou do olhar higienizador, principalmente os relacionados à alimentação. Em 1908 jornal “O Espião” denunciou açougueiros que para cada quilo de carne boa colocavam 200 gramas de estragada. Naquele ano, os açougues do mercado municipal passavam por reformas que os tornariam mais higiênicos, porém, de acordo com o “A Notícia”, seria necessária uma transformação geral para deixá-los dentro dos padrões exigidos para este tipo de estabelecimento. A carne era transportada do matadouro aos açougues em carroças distante do ideal moderno de higiene. Também eram vistos como inimigos da saúde pública os vendedores ambulantes de comida, que na maior das imundices percorriam as ruas da cidade envenenando e contaminando a população.

Assim, fundamentado na higiene e na saúde pública, o discurso médico-sanitarista burguês ganhou força, invadindo a vida privada dos parnanguaras no interior de suas propriedades.