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A Estátua do Professor Cleto

Nas primeiras décadas do século XX, Paranaguá passava por um processo de urbanização, recebendo melhorias como água potável…

Publicado

em

Alexandre Camargo de Sant’Ana

Nas primeiras décadas do século XX, Paranaguá passava por um processo de urbanização, recebendo melhorias como água potável encanada e rede de esgotos. Ruas ganhavam calçamento e antigos postes de madeira, pouco a pouco eram substituídos por outros mais modernos, de ferro. Caetano Munhoz da Rocha na prefeitura e José Lobo na presidência da Câmara recebiam total apoio do governo estadual, pois todos eram republicanos, e Paranaguá se modernizava. Neste contexto, José Cleto da Silva, antigo líder republicano, o querido professor Cleto, faleceu aos 68 anos em 25 de fevereiro de 1912 na cidade de Curitiba. O deputado Generoso Marques, também republicano, fez um longo discurso na Assembleia Paranaense homenageando o ilustre parnanguara e o elogio saiu na íntegra no jornal “A República”. Rapidamente surgiu uma campanha para a criação de um busto em homenagem ao professor em sua terra natal. Além dos particulares, inclusive curitibanos, houve doação da Câmara Municipal e do governo estadual. Os organizadores escolheram o artista Frederico Guilherme Lobe para criar o modelo em gesso e pediram à Prefeitura que o busto fosse colocado sobre o Jardim Chavantes, na Rua XV de Novembro, local que homenageava o maior inimigo de Cleto, uma escolha totalmente simbólica. O modelo em gesso ficou exposto por um tempo no Louvre Curytibano e mais tarde transferido para Paranaguá, onde seria exibido em alguma escola da cidade. Sobre a fabricação da peça as fontes divergem: São Paulo ou na Fundição Indígena, no Rio de Janeiro, a maior do Brasil naquele momento. Em 30 de outubro de 1913 o busto chegou ao Porto Dom Pedro II, mas foi inaugurado apenas em 18 de janeiro de 1914, no mesmo dia da inauguração da água potável encanada. O evento contou com a presença de diversas autoridades políticas municipais, estaduais e federais, familiares do professor e do artista, representantes de vários jornais e muitos parnanguaras, afinal, o dia era de festa e desde cedo havia intensa movimentação na cidade. Com uma banda de música e acompanhada pela multidão, a comitiva saiu do Palácio Visconde de Nácar, sede da prefeitura, em direção ao Jardim Chavantes, onde o busto estava coberto com um tecido. Quando o prefeito Caetano Munhoz da Rocha desceu o pano e descobriu a estátua de José Cleto da Silva, a banda tocou o Hino Nacional e o som das palmas dominou o local. Hugo Simas proferiu um discurso em elogio ao professor e depois quem falou foi o genro de Cleto. Segundo o jornal “A República”, era o primeiro busto em homenagem a um professor no Brasil, mas, analisando o acontecimento por completo, percebemos que se tratou mais de um ato político do que qualquer outra coisa. Teve um gosto de vingança erigir um busto de Cleto em cima do jardim que homenageava seu maior inimigo. Na placa, que há tempos foi roubada, escrito em português um pouco diferente do atual, havia a seguinte mensagem: “José Cleto da Silva. Nascido a 24 de Outubro 1843. Falecido a 25 de fevereiro 1912 – Homenagem do Estado do Paraná. Da Câmara Municipal de Paranaguá. De seus alunos e amigos. 1913”. Atualmente, sem nenhum tipo de identificação, o belo monumento permanece lá, há mais de 100 anos resistindo ao tempo e caindo no esquecimento. Poucos sabem se tratar do professor Cleto.

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