Apresentamos nas semanas anteriores, em uma versão bastante resumida da história, o surgimento, a evolução e a transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa, e de que forma a moderna “maçonaria do pensamento” teria herdado das corporações de pedreiros medievais o simbolismo do nome e das ferramentas, a organização de trabalho, os princípios morais e os usos e costumes, entre eles os de reconhecimento mútuo através de senhas.
O objetivo tem sido demonstrar, na medida do possível, a natureza do dito segredo maçônico. A história é dinâmica, assim como são suas versões, e evidentemente não cabe aqui apresentar nem aprofundar os muitos detalhes ocorridos ao longo de vários séculos, nem mesmo abordar outros acontecimentos históricos que, em diferentes momentos, podem ou não ter influenciado a formatação da Maçonaria tal e qual se apresenta nos dias de hoje (a exemplo das cruzadas e os Templários, ou o exílio da dinastia britânica Stuart no continente europeu).
Não obstante, observar a superfície dos fatos já leva a entender que os sinais, toques e palavras constituíam o famoso “segredo da Maçonaria” como uma precaução necessária a fim de proteção dos indivíduos e de seus grupos. Contudo, nos primórdios ocorria, como ainda ocorre especialmente onde há absolutismo tirânico, serem as autoridades civis ou eclesiásticas desconfiadas e inseguras com o que não controlam, e em geral sentem-se ameaçadas por não acreditarem que tais segredos, em torno dos quais se faz tanto mistério, se limitam a alguns sinais de reconhecimento.
Com o tempo, essa “desconfiança” e os mitos que dela se alimentam se estenderam e ampliaram em razão de que, para transmitir seus ensinamentos, a Maçonaria nunca tenha se expressado literalmente em palavras. Esta característica de forma alguma constituía exclusividade ou privilégio maçônico. A história mostra que a cultura religiosa e esotérica dos povos sempre foi mergulhada em símbolos, e naturalmente a Maçonaria também adotou a ciência do simbolismo para revelar seus ensinamentos esotéricos.
É reconhecido que as antigas instituições religiosas e filosóficas dividiam seus ensinos em secretos (esotéricos) e públicos (exotéricos). Estes últimos eram apresentados abertamente à massa popular sob a forma de mitos, contos, alegorias e parábolas. Já o ensino esotérico, individual e místico, era reservado aos iniciados, os “poucos já preparados pela assimilação e realização dos ensinos éticos”, ou seja, de seu conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral.
“Os mesmos princípios de segredo e de silêncio existiram em todos os antigos mistérios e sistemas culturais. Quando se perguntou a Aristóteles qual era a coisa que lhe parecia mais difícil de ser executada, ele replicou: guardar um segredo e ficar em silêncio.” É importante considerar que “segredo” é um conceito filosófico, de conteúdo variável, que a rigor a linguagem humana não sabe traduzir, nem trair, “visto que as palavras correspondem a conceitos, ao passo que o conhecimento iniciático transcende o pensamento conceitual.”
As definições restritas e determinadas da linguagem discursiva e analítica impõem limites ao entendimento. Por outro lado, “o símbolo é essencialmente sintético, abre possibilidades de concepções verdadeiramente ilimitadas.” Os símbolos “representam o pensamento de maneira simples, sendo o simbolismo, evidentemente, o sistema ou conjunto de símbolos que recordam fatos ou crenças, levando-lhes lições de sabedoria e conhecimentos religiosos (…)”.
Na próxima semana concluíremos esta série de considerações sobre o segredo da Maçonaria.
(Com informações do GOB-PR, e fundamento em obras de N. Aslan e V. Sansão)
Responsável: Loja Perseverança ([email protected]) – Jorn. Fernando Gerlach (DRT-PR nº 2327)