Crônicas

Plena

Hoje, acordei bem e feliz. Saltei fácil da cama e fui dar uma olhada na vida.

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Hoje, acordei bem e feliz. Saltei fácil da cama e fui dar uma olhada na vida.

Cumpri os rituais de praxe e me coloquei a agradecer. Agradeci pela saúde e por tudo que me cerca. Tudo mesmo. Desde a minha família até a borboleta que voa e pousa, pousa e voa na árvore que sacode suavemente seus galhos e suas folhas num bailado me enchendo de paz e tranquilidade.  

Tomei um banho sem pressa, lavei, sequei e modelei os cabelos. Estou loira. Gosto assim. De me sentir levemente dourada e solar. O comprimento das madeixas está bem maior do que em anos anteriores. Ando contrariando uma dica boba que diz que conforme a idade da mulher avança, ela deve manter os cabelos mais curtos. É mesmo? Como são cansativas essas tentativas de enquadramentos. Não gasto meu tempo com isso, economizo minhas energias para gastar vivendo.

E tenho vivido, não com uma vida cheia de passeios com registros de fotos para colocar no Instagram. Aliás, nem tenho Instagram. Mas, no momento, não é isso que importa. Hoje, só quero absorver o dia e perguntar para o espelho: “Espelho, espelho meu! Existe pessoa mais intensa do que eu?”

Ahhh, essa intensidade! Essa fúria pelos dias e pelas emoções! Não gosto do mais ou menos. Um passeio mais ou menos, um lugar mais ou menos. O tédio desencadeia bocejos. A vida precisa ser provocativa, despertar em mim sensações, cutucar o que está quieto, acelerar o coração, trazer sorrisos e choros, qualquer coisa que me faça mexer os músculos. Para que isso aconteça, não preciso saltar de paraquedas ou entrar em um bote e encarar uma correnteza, nada disso. O simples tem o poder de me curar, uma sessão de cinema, por exemplo, pode me trazer benesses e um passeio à beira do mar sempre me traz a sensação de rejuvenescimento. Consigo extrair das pequenas coisas a grandiosidade do que representam. 

Que essa intensidade não me falte! É a minha marca. Não abraço projetos que não possa me entregar por inteira. Não lido bem com frações, com o que é metade ou meias porções. Preciso sentir a totalidade, a entrega, a sensação de pertencer. Só assim me envolvo de corpo e alma e farei o possível para dar o meu melhor. Porque o meu melhor sempre estará ligado ao amor por tudo que faço. Sem amor eu não sou nada.

Despertei com uma idade recém-inaugurada, com essa novidade que ainda não fazia parte da minha biografia. Uma idade zero quilômetro, prontinha para rodar. Uns consideram um ano a mais; outros, um ano a menos. Não importa. A graça da vida está, justamente, em poder acordar a cada manhã para abraçar o inesperado, os momentos, as surpresas, sejam elas agradáveis ou não.

Especialmente hoje, acordei plena.

Plena

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.