Lembra quando a gente pegava um pedaço de papel e escrevia um bilhete para alguém? “Saí. Volto às 17h. Beijos.” Às vezes, tudo cabia em uma única linha. Depois, era preciso definir o lugar onde se deixaria o recado, a fim de facilitar a vida de quem o encontrasse. Além disso, a letra exposta era quase uma intimidade revelada e podia surpreender: positivamente ou negativamente, sobretudo quando nos deparávamos com uma caligrafia rebelde, quase impossível de decifrar, ou, então, com aquela escrita arredondada, típica de professora.
Nas escolas, havia o caderno de caligrafia, você se recorda? Era necessário escrever respeitando as linhas que se alternavam entre maiores e menores, e não se podia, em hipótese alguma, ultrapassar o limite permitido.
E as cartas, lembra delas? Essas exigiam um cuidado ainda maior. Era preciso refletir sobre o que se desejava dizer, escolher os termos, distribuí-los sobre o papel, organizar as ideias, desenvolver parágrafos, com a caneta sempre registrando o que transbordava da mente. E se a correspondência fosse de amor? Aí o capricho se ampliava: até o papel de carta era selecionado com esmero, e se pensava duas vezes em cada detalhe que se pretendia expressar.
Já houve uma época em que tudo era mais tranquilo, acredite.
Hoje em dia, uma mensagem eletrônica via WhatsApp chega de imediato, e urgências são ótimas para aniquilar a beleza de uma poesia. Sem a caligrafia personalizada e uma assinatura para legitimar, as trocas costumam cair na banalidade. As palavras com letras suprimidas revelam a pressa, em que o cuidado e a atenção com o outro não habitam. Reinam as abreviações acompanhadas de emojis de carinhas, florezinhas e o indefectível “joinha”. Faltam alma e entrega nas mensagens. Sobram frieza, praticidade, rapidez e descuido.
Estamos perdendo a capacidade de escrever. Mesmo que a frase soe apocalíptica, pare e reflita: quanto menos se organiza o pensamento para a escrita, mais proliferam emojis tentando expressar o que não foi dito em palavras.
Por fim, uma pergunta que não quer calar: há quanto tempo você não vê a própria letra?





