Meio Ambiente

Do litoral do Paraná para o mundo: Programa Couro de Peixe chegará ao continente africano

Iniciativa criada na Unespar campus Paranaguá valoriza a região

O Projeto Couro de Peixe foi criado em 2007

No mês que vem, a professora doutora Kátia Kalko Schwarz, da Unespar (Universidade Estadual do Paraná), campus Paranaguá, embarca para o continente africano. Ela levará o Programa Couro de Peixe, criado no litoral do Paraná, através da FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), para gerar renda também para outras comunidades.

“Nosso couro de peixe será levado agora para o continente africano para gerar trabalho e renda para aquelas comunidades. Eu fico muito feliz com isso, nós estamos servindo de exemplo para um continente que está com tantos problemas. É o meu sonho que está sendo realizado”, contou a professora e coordenadora do programa.

Como funciona o Programa Couro de Peixe

O Projeto Couro de Peixe foi criado em 2007 e se transformou em Programa na Unespar, campus Paranaguá, em 2017. Foi considerado pioneiro no litoral do Paraná, com a coordenação da professora Kátia Kalko e apoio da SETI/UGF-PR (Secretaria de Ciência e Tecnologia de Estado do Paraná/ Unidade Gestora do Fundo-PR), Programa Universidade Sem Fronteiras-PR, Fundação Araucária-PR e CNPq.

A iniciativa começa com a compra das peles de peixes dos filetadores nos Mercados Municipais de Paranaguá, Matinhos e peixarias de Pontal do Paraná. 

As peles são levadas ao curtume comunitário em Pontal do Paraná, limpas, retiradas as escamas e as carnes aderidas. Para o curtimento, são utilizados taninos vegetais de acácia ou de mimosa. Os couros são comercializados, ou ainda transformados em artesanatos pelos artesãos participantes do programa.

Programa Couro de Peixe
O couro de peixe trabalhado no litoral do Paraná é vendido para uma loja de móveis que atende a classe A+. (Foto: Divulgação/Unespar Paranaguá)

A Unespar, campus de Paranaguá, é a mantenedora do programa, cedendo equipamentos para curtimentos, utensílios, balanças, geladeira, freezers, materiais de limpeza, logística, entre outros.

Além da professora Kátia, os professores Dr. José Francisco de Oliveira Neto e Dr. Luís Fernando Roveda inserem alunos no desenvolvimento de pesquisas, estágios e vivência em extensão universitária e pesquisas paralelas ao programa.

Crescimento do Programa Couro de Peixe

“O programa cresceu muito, principalmente depois que o Sebrae entrou para ajudar. Na universidade, o Couro de Peixe é tido como um dos programas com maior atenção. O programa já alcançou diversos países, a gente já exportou para a Alemanha, a Cattalini comprou os nossos souvenirs, já foi para o Canadá e para vários outros lugares”, destacou a professora Kátia.

Hoje, o couro de peixe trabalhado no litoral do Paraná é vendido para uma loja de móveis que atende a classe A+ com a utilização do material em itens exclusivos. “A gente também atende arquitetos que fazem projetos exclusivos de designers, justamente para atender uma classe mais alta, e as nossas artesãs atendem uma classe popular”, informou Kátia.

Segundo a professora, a arquiteta Liamara Zardo Selbach, de Curitiba, já foi ganhadora de um concurso com uma luminária fabricada a partir do couro de peixe do litoral. 

Programa Couro de Peixe
A arquiteta Liamara Zardo Selbach, de Curitiba, já foi ganhadora de um concurso com uma luminária fabricada a partir do couro de peixe do litoral. (Foto: Reprodução/redes sociais)

Geração de trabalho e renda 

Com a criação da “Associação Couro de Peixe”, em Pontal do Paraná, o programa integra 17 mulheres/sócias. “Esta associação foi criada a partir de um termo de convênio (Projeto) entre a SETI-PR/UGF e Unespar campus de Paranaguá, que atingiu um dos objetivos: organizar a comunidade atendida pelo Programa Couro de Peixe. Socialmente, estas mulheres têm mais de 45 anos, maioria viúvas ou divorciadas”, comentou a professora Kátia.

O espaço se tornou também um local de convivência no curtume comunitário, não somente para produção de couros de peixes, mas também para a socialização. “Elas trocam ideias, fazem amizades e tem objetivos, o que aumenta a autoestima feminina”, acrescentou Kátia.

São 34 famílias beneficiadas com o Programa Couro de Peixe. Desde as que limpam os peixes até os bolsistas da Unespar, fornecedores de insumos curtentes, armarinhos, estagiários, mestrandos, entre outros. “As pessoas que tiverem interesse e gostarem de curtir couro de peixe, poderão se associar e, assim, começar uma nova forma de fomento na renda familiar”, disse Kátia.

Programa Couro de Peixe
A professora doutora Kátia Kalko Schwarz é a coordenadora do Programa Couro de Peixe
(Foto: Gabriela Perecin)

A comunidade gera renda através da venda de produtos como biojoias e artefatos a partir do couro e escamas de tilápia, robalo, pescada amarela, linguados, miraguaia, parú, corvínia e prejereba. “Com os couros peixes pode-se fazer artesanatos diversos, customizações, bolsas, cintos, calçados, pochetes, suvenires, chaveiros, biojoias, brincos, colares, pulseiras, entre outros”, completou Kátia.

Indicação Geográfica

O Sebrae está iniciando, junto ao Programa Couro de Peixe e a Associação de Pontal do Paraná, os trâmites para obtenção da Identificação Geográfica (IG) do Couro de Peixe produzido em Pontal do Paraná com apoio da Prefeitura, o que fortalece ainda mais a iniciativa.

De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, a Indicação Geográfica (IG) identifica a origem de um produto ou serviço que tem certas qualidades graças à sua origem geográfica ou que tem origem em um local conhecido por aquele produto ou serviço. A proteção concedida por uma IG, promove o desenvolvimento regional.

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Gabriela Perecin

Jornalista graduada pela Fema (Fundação Educacional do Município de Assis/SP), desde 2010. Possui especialização em Comunicação Organizacional pela PUC-PR. Atuou com Assessoria de Comunicação no terceiro setor e em jornal impresso e on-line. Interessada em desenvolver reportagens nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, inclusão, turismo e outros. Tem como foco o jornalismo humanizado.